
JÁ ALGUMA VEZ estiveram cara a cara com alguém que conheceram através de uma rede social e com quem passaram dias a trocar mensagens? Já alguma vez se viram perante esse estranho impasse, misturado com riso nervoso, que é conhecer uma pessoa a quem já falaram de vocês? Já alguma vez respiraram fundo e pensaram «O que é que eu estou aqui a fazer?», enquanto agarram o puxador da porta do bar onde combinaram um primeiro encontro? Descansem, não são casos únicos. A esta hora, enquanto estão a ler isto, muita gente está provavelmente num first date com um desconhecido que até já conhece algumas coisas – pelo menos a fotografia de perfil.
NÃO É DIFÍCIL identificar um primeiro encontro de duas pessoas que se conheceram pela internet. Seja no Facebook, no Tinder, no Badoo, no OkCupid ou em qualquer outra rede social, de engate ou não. Aliás, são até bastante fáceis de reconhecer. É pelo menos essa a convicção das habituais testemunhas deste tipo de encontros. Entrevistados pelo site The Daily Share, sete empregados de balcão de bares nova-iorquinos deram conta de como é assistir na primeira fila a estes momentos constrangedores. O vídeo, divulgado nesta semana, é um documento antropológico de vergonha alheia. Não por eles, que estão atrás do balcão a ver o filme todo, com um misto de pena e curiosidade. Mas pelos desgraçados que estão do lado de lá, desamparados, sem saberem que estão a ser observados. Melhor: sem saberem que estão a ser completamente radiografados. E que cada reação que têm à outra pessoa que nunca viram ao vivo está, provavelmente, a ser enviada por mensagens para um conjunto de gente que está a seguir o episódio à distância.
«OBSERVAR ENCONTROS é a melhor parte do meu trabalho» diz uma das empregadas. «Sabemos sempre quando um Tinder date está a decorrer», diz outro, referindo-se a esta espécie de sexto sentido que os empregados de balcão têm para estas coisas. Vale a pena ver o vídeo: são 4:11 minutos de descrições deliciosas que poderiam estar numa check list das figuras que se fazem nestas alturas. Sentar ao balcão e olhar várias vezes para o relógio, entrar no local e rodar a cabeça à procura de uma cara que se pareça com aquela fotografia de perfil (e fazer uma careta disfarçada ou um ar de desapontado quando isso não acontece), fugir para a casa de banho (onde possivelmente irá mandar mensagens a alguém que sabe o que se está a passar), conversar sobre o trabalho ou sobre o local onde se vive são apenas alguns dos sinais que denunciam as primeiras vezes.
E COMO SABER se a coisa tem hipóteses de sucesso? «Sei que um encontro está a correr bem se eles se fazem rir um ao outro», diz uma das empregadas. «O bar inteiro desfoca-se à volta deles», acrescenta outra. Sim, é um bom sinal, esse de não ver mais nada a não ser a pessoa que queremos impressionar. Check. E o contrário? Como é que se vê que aquilo não se vai repetir? «Abrir a aplicação de encontros enquanto a outra pessoa está na casa de banho» é capaz de não ser um bom sinal. «Ou dizer que tem de ir embora porque amanhã tem de acordar cedo… a uma sexta-feira.» Mas pior do que isso é o caso do fulano que fugiu quando a acompanhante foi à casa de banho. «Ela voltou e foram uns minutos de estranheza a olhar à volta. Até que tive de lhe dizer: “Acho que ele… se foi embora”.»
CONHECER ALGUÉM através de uma rede social é, hoje em dia, tão banal como ter um perfil no Facebook. Aquilo está ali, à mão de semear, não faz sentido não aproveitar. No fundo, é como fazer um atalho na Teoria dos Seis Graus de Separação. Mas se (ou quando) embarcarem nisso, pensem nos sinais que estão a emitir. E que alguém, algures, está provavelmente a gozar o prato. Se for o caso, garantam que tem direito a um bom espetáculo.
[Publicado originalmente na edição de 1 de março de 2015]