
A moda espanhola é um caso de sucesso em Portugal. Em vésperas do confronto entre os dois grandes de Madrid, no Estádio da Luz, na final da Liga dos Campeões, fomos à procura das grandes marcas do país vizinho que fazem furor entre nós.
Agatha Ruiz de la Prada
Agatha Ruiz de la Prada apresentou a primeira coleção em 1981, anda não tinha 20 anos e, pouco tempo depois, as suas criações já faziam furor nas passerelles de Barcelona e Madrid. O passo seguinte foi a entrada triunfal nas lojas El Corte Inglés, que passaram a vender e a divulgar as peças da designer em toda a Espanha.
Nos dez anos seguintes, Agatha Ruiz de la Prada continuou a ditar a moda através da expansão da marca – uma gama variada de produtos, desde roupa de mulher, vestidos de noiva, móveis, cosméticos – e da internacionalização – desfiles e exposições no estrangeiro e a abertura de lojas exclusivas em Madrid, Paris, Milão, Nova Iorque. Hoje a criadora da chamada onda fashion está representada em 140 países e também lançou uma loja online. Mais um espaço de venda de «roupa feliz», como ela gosta de chamar às suas criações: «O meu desenho é concetual e a minha roupa é cómoda para o corpo e para a mente, é cómoda para quem a veste, para quem a observa, para quem a fabrica e para quem a recicla.»
Agatha Ruiz de la Prada foi um dos rostos da Movida Madrilena, o movimento cultural e artístico que marcou a mudança de paradigma da sociedade franquista para a sociedade democrática. O movimento cultural underground nasceu na capital mas rapidamente estendeu-se a toda a Espanha através da música (Kaka de Luxe, Alaska y los Pegamoides, entre outros), cinema (Pedro Almodôvar), literatura (Gregório Morales, Vicente Molia Fix) e moda ( Agatha Ruiz de la Prada).
Em 2011, precisamente trinta anos depois do primeiro desfile, nasceu a fundação Agatha Ruiz de la Prada, que tem como objetivo preservar a obra artística, cultural e intelectual da criadora.
Zara
Quem diz Zara, diz Amancio Ortega, fundador e presidente do grupo Inditex, o maior grupo espanhol de criação e produção de moda (em 2013, faturou 16,7 milhões de euros e teve lucros de 2,3 milhões). Tudo começou em 1963, com o fabrico de peças de vestuário, na Galiza, um negócio que cresceu e ao qual bastou uma década para ter várias fábricas de confeção e passar a exportar para os países europeus. Em 1975, Amâncio Ortega abriu a primeira loja numa rua do centro da Corunha. Hoje, o fundador da Zara, que também não dá entrevistas, é o terceiro homem mais rico do mundo e o mais rico de Espanha: segundo a Forbes, em março deste ano, a sua fortuna valia cerca de 47 mil milhões de euros.
Desde a década de 1970 que a Zara se tornou imparável. A criatividade, o desenho e a boa relação qualidade/preço do vestuário e dos acessórios foram determinantes para o sucesso da marca, que em poucos anos tinha lojas abertas em todas as cidades espanholas. Em 1988, o Grupo Inditex abriu a primeira loja no estrangeiro e o Porto foi a cidade eleita. No ano seguinte, a primeira loja Zara chegou aos Estados Unidos e a França, com a abertura de espaços em Nova Iorque e Paris. A mais recente inauguração foi em Nova Iorque – no cruzamento da 5ª Avenida com a Rua 52 – e não deixa ninguém indiferente, até pela sua dimensão: 3600 metros quadrados no centro de Manhattan é um feito só ao alcance de alguns. Atualmente, a Zara tem mais de 1800 lojas espalhadas por 87 países e, em 2013, faturou 10,8 milhões de euros.
O grupo Inditex detém oito marcas – Zara, Pull & Bear (moda jovem), Massimo Dutti (criada a pensar num público alvo mais sofisticado), Bershka (moda jovem), Stradivarius (moda jovem e vanguardista), Oysho (roupa interior feminina), Zara Home (decoração) e Uterque (acessórios) – e é um dos principais distribuidores de moda em todo o mundo: tem cerca de 6200 estabelecimentos e está presente em 86 países. Todas as marcas do grupo Inditex têm lojas online.
Mango
A Mango nasceu em 1984, em Barcelona, e deve o nome ao fundador e atual presidente – Isak Andic. Diz-se que o mentor da marca queria um nome pronunciável em qualquer parte do mundo e que o fruto (manga, em português), de que é apreciador, o terá inspirado. A história da marca é uma história de sucesso e a fortuna do seu criador – 5,8 mil milhões de dólares – fez dele o segundo homem mais rico de Espanha e o 244.º mais rico do mundo, segundo o ranking da revista Forbes relativo a 2014. Antes de criar a Mango, o único contacto que Isak Andic, um judeu de origem turca, terá tido com o negócio da moda foi a venda de um conjunto de camisas a amigos pelo dobro do preço que lhe terão custado num país onde tinha estado de férias.
Prenúncio para um negócio de sucesso? Talvez. Andic é um homem discreto e não dá entrevistas. Mas é certo é que o crescimento da Mango foi rápido: em 1985, havia cinco lojas em Barcelona, em 1992, a marca abriu a loja número 99 em Espanha e a partir daí a expansão tornou-se imparável. Os primeiros espaços da Mango fora de Espanha foram abertos em Portugal.
Hoje, está presente em mais de cem países e tem cerca de duas mil lojas.
Cortefiel
Cortefiel é uma marca de vestuário feminino e masculino que nasceu em Madrid em 1946, mas também é um dos principais grupos europeus do setor da moda – as cadeias Pedro del Hierro, Springfield, Women’Secret e as lojas outlet Fifty Factory fazem parte do grupo. Está presente em 70 países e tem 1964 pontos de venda.
A história do Cortefiel começa no século XIX, em 1880, na capital espanhola, com a abertura de uma mercearia familiar. Com o passar dos anos, a família começou a interessar-se pelo setor têxtil e, em 1933, abriu uma fábrica de camisas em série – as camisas La Palma. No final da II Guerra Mundial, em 1945, o investimento foi uma alfaiataria industrial, onde se fabricaram os primeiros fatos para homem em toda o país vizinho. Um ano depois, em 1946, nasceu a marca Cortefiel, que atualmente está presente em 22 países, com 362 lojas (44 em Portugal) que vendem uma vasta gama de roupa, acessórios e calçado para homens e mulheres. A expansão da marca e do grupo é atribuída a Gonzalo Hinojosa, um descendente da família fundadora que presidiu ao grupo durante mais de 25 anos, até à sua venda, em 2005.
Entre as outras marcas do grupo Cortefiel, destaque para a Pedro del Hierro, adquirida pelo grupo em 1992. Já a Springfield, mais direcionada para o público jovem e urbano, nasceu no seio do grupo, em 1988, tendo 693 lojas e estando representada em 50 países.
Quanto à Women’Secret, especializada em lingerie, pode dizer-se que é uma das marcas de maior sucesso do grupo. Nasceu em 1993, começou a expandir-se em 2001 e hoje tem 419 lojas (40 em Portugal) em 49 países.
Purificación García
Purificación García nasceu numa pequena aldeia da província de Orense, na Galiza, mas quando tinha um ano mudou-se com a família para Motevideo, no Uruguai. Foi aí que, aos 15 anos, começou a trabalhar numa fábrica de têxtil. A necessidade de ajudar a família deu-lhe a oportunidade de conhecer os tecidos e os materiais que lhe granjearam a fama. Na fábrica, Purificación entrou como operária mas o seu lado criativo não passou despercebido e um ano depois já era designer. Determinada e ambiciosa, aos 21 anos muda-se para o Canadá e começa a trabalhar em peles. Entretanto, passa por Nova Iorque e em 1978, com 25 anos, decide regressar a Espanha.
Nessa altura, Purificatión García instalou-se em Mayorca, onde se manteve durante dois anos e onde criou as primeiras peças – camisas, lenços, bolsas, chapéus, etc. – que vendia, ela própria, nas praias da moda. Depois mudou-se para Barcelona e em 1981 apresentou a sua primeira coleção completa. Daí até ao reconhecimento dos pares e à conquista do mercado espanhol foi um pequeno passo e no final da década de 1980 os modelos de Purificación García já desfilavam nas passerelles de Milão. Uma década depois chegou a Tóquio.
Os anos 1990 foram muito importantes para a expansão da marca. Além da abertura da loja em Barcelona, Purificación desenhou os vestidos para o desfile inaugural dos Jogos Olímpicos de Barcelona e hoje o seu talento pode ser admirado e comprado em lojas por todo o mundo. As peças das olimpíadas, inspiradas na Sagrada Família e no Parque Güell, de Gaudí, estão expostas no Museu Olímpico, em Lausanne.
Hoje, quem pensa em Purificación García pensa em moda feminina – roupa, acessórios, perfumaria – mas também em vestidos de noiva e confeções para a casa: «Quando crio, penso na mulher real que a cada dia enfrenta o desafio do seu armário. Posso ser eu, ou qualquer mulher, que trabalha, tem a sua vida social, a sua família e, ao mesmo tempo, deve sentir-se bem consigo própria. Por isso, o que procuro fazer é facilitar o trabalho das mulheres na escolha do vestuário, todos os dias», afirmou Purificatión García numa famosa entrevista que concedeu à Vogue há três anos.
Adolfo Domínguez
Foi nos anos 1980 que o nome de Adolfo Domínguez (AD) passou a ser referência na moda masculina, mas o criador começou a desenhar e a produzir peças de vestuário para homem na década de 1970. Foi em Ourense, na Galiza, que tudo começou. Entretanto, a pequena empresa têxtil familiar cresceu, profissionalizou-se e conquistou o mundo. A série de televisão norte–americana Miami Vice ajudou a divulgar a marca AD, pois o criador espanhol foi o autor do guarda-roupa.
Na década de 1990, Adolfo sofreu o maior revés da sua vida profissional quando um grande incêndio destruiu por completo a sede da empresa (escritórios, ateliers, oficinas, mostruários, stocks e arquivos). Mas dessa catástrofe o que ficou mais célebre foi a sua frase corajosa: «Fora a morte, nada me vencerá.»
E assim foi. Adolfo Domínguez renasceu literalmente das cinzas – a marca dispõe de mais de 600 lojas e está presente em 27 países – e continuou a inovar no mundo da moda. Hoje AD é uma sigla que continua associada essencialmente ao público masculino, mas também tem roupa para mulheres, jovens e crianças.
As preocupações ambientais do designer estão presentes na sua vida e guiam as suas criações, concebidas com recurso a matérias orgânicas. Nos últimos quatro anos, o grupo registou uma quebra nas vendas e na faturação.