Casacos de pele de peixe? Não é sonho: a Soguima, empresa de peixe congelado, com 25 anos de história, está a explorar um novo segmento de negócio que visa dar nova vida à pele dos peixes que processam.
Quando vai ao supermercado comprar uma embalagem de bacalhau ou de salmão, demolhado e congelado, fique a saber que a pele desses peixes pode estar nos sapatos, no vestido, no casaco ou nos acessórios que alguém está a usar ou a revestir uma cadeira, sofá ou qualquer outra peça de mobiliário lá de casa. Isto porque a empresa de peixe congelado Soguima resolveu aproveitar o que dantes ia para o lixo e transformar esses desperdícios em moda. «Durante muitos anos pagávamos a uma empresa para transformar o desperdício em farinha para comida de animais. A ideia de dar uma nova vida a esta matéria-prima começou a tomar forma há alguns anos, e para a concretizar fizemos vários estudos, testes, experiências de cor e consistência», diz Daniel Guimarães, um dos responsáveis pelo Departamento de Investigação e Desenvolvimento da Soguima, fundada há um quarto de século por dois irmãos – António e Manuel Guimarães – e sediada no concelho de Guimarães.
Daniel, filho de um dos fundadores da empresa, a terminar o mestrado em Veterinária, e o primo, Emanuel Guimarães, decidiram arregaçar as mangas e rentabilizar mais uma área de negócio. Isto porque se o gosto por peles exóticas ou de diferentes texturas continua a fascinar designers, fabricantes e consumidores, não é menos certo que as questões ecológicas abrem caminho ao uso de animais que pertencem à cadeia alimentar comum, como o peixe. E as peles destes peixes assemelham-se às de crocodilo ou cobra. «Trabalhamos com salmão, bacalhau, carpa, perca, peixe-lobo, raia, animais com peles fáceis de manobrar, sem qualquer tipo de odor e francamente mais acessíveis do que as peles exóticas», diz Daniel Guimarães.
Na origem desta ideia está o conhecimento que esta empresa e respetiva família têm de peles de animais exóticos, já que há 18 anos têm uma fazenda em Moçambique especializada na criação de crocodilos. «A população tinha vários problemas com crocodilos e nós obtivemos uma autorização para recolher os ovos e fazer criação para podermos extrair as suas peles. A carne é vendida para países que a consomem, como a África do Sul, e nós trabalhamos o excedente que é a pele.» A fazenda faz também criação de gado, tem um matadouro, arcas de refrigeração e congelação. «Este know-how ajudou a perceber como tratar a pele de peixe, reconhecendo as devidas diferenças. Uma delas foi de facto o cheiro», explica Daniel Guimarães.
O interesse por parte do setor da moda (roupa, calçado, acessórios) e do mobiliário surgiu após terem marcado presença na 41.ª Edição da Capital do Móvel, em Paços de Ferreira, tendo já havido experiências com algumas marcas destes setores para «compreenderem as potencialidades do produto». A fábrica da Soguima está a investir na sua expansão para, dentro de dois anos, aumentar a capacidade de produção que, atualmente, ronda os 20 milhões anuais.