Crianças felizes e a obsessão com os resultados

Notícias Magazine

O aproximar de um novo ano letivo é uma daquelas datas cíclicas que nos marcam a vida. Tanto assim que para os outros, os que já não vão à escola, mas regressam também de férias grandes – deixem-me chamar-lhes assim –, se convencionou a rentrée. É o recomeço da vida como ela é, a sério, e não apenas a que se mede entre os metros que vão da espreguiçadeira à borda do mar e se avalia pela temperatura a que está a areia. Ai, que preguiça.

Nas escolas, o começo do ano escolar cheira a cadernos em branco – e todos nos lembramos da sensação de euforia que isso nos provocava. As borrachas lisinhas a cheirar a borracha, os lápis de cor afiadinhos até à ponta de agulha, um estojo a estalar denão ter sido usado… Tudo isso e mais a ideia de poder começar de novo, qualquer que tenham sido os resultados do ano anterior, ajudam a recuperar um sentimento de felicidade que a escola sempre traz – por muito periclitantes que sejam esses resultados. A escola, enquanto a frequentamos, é para nós tão importante como virá a ser o nosso trabalho, o nosso emprego: é uma enorme parte do que somos. A escola que fizemos, o ensino que fomos, é muito do que nos tornámos. Transmitiu-nos informação, educação, saber. Mas também nos formou. Nos tornou pessoas.

Por tudo isto, neste ano, o tema escolhido para marcar o ano letivo que começa, aqui na Notícias Magazine, foi a felicidade. Como usar essa alegria do primeiro dia de aulas e prolongá-la durante o resto do ano? Aproveitámos este tempo em que se olha mais demoradamente para escolas, alunos, professores e pais para responder à pergunta fundamental: como podem os pais ensinar os filhos para que estes se tornem pessoas felizes?

Quando a Ana Pago tomou nos braços esta interrogação, descobriu que esta era um dos assuntos fundamentais da pedagogia moderna. Falou com especialistas, pedagogos, com pais e com alunos, inquiriu, leu, foi à procura das respostas teóricas e das suas aplicações práticas. E descobriu que as teses, feitas por quem mais sabe e estuda a matéria, portugueses e estrangeiros, iam, no fundo, beber ao mais comum bom senso. Que tantos de nós esquecemos no dia-a-dia, no tal que se gere em assuntos sérios, depois da praia.

A conclusão a que todos os especialistas chegam… bom, essanão vos vou dizer já – está no artigo que faz capa desta edição. Mas posso adiantar-vos que para uma criança atingir a felicidade é preciso mais ou menos o mesmo que dizia a equação complicada divulgada há umas semanas pela Academia Nacional das Ciências dos Estados Unidos: equilíbrio entre a descoberta, as expetativas e o esforço para realizar o que se pretende. Um pai que consigaensinar o seu filho a valorizar tanto a experiência e o processo de descoberta como aquilo que se descobre ou que se aprende, deve, em princípio, estar a fazer um bom trabalho no sentido de tornar o seu filho uma criança feliz.

O problema – estão os leitores todos a pensar – é como combinar isso, na prática, quando o ensino está cada vez mais centrado nas avaliações objetivas e quantitativas, cada vez mais obcecado com os exames e estamos todos, alunos, pais e professores, envoltos numa sociedade sempre a valorizar mais os resultados do que os processos… Pois. Não é fácil. Daí a tal equação complexa.Mas… também… ninguém disse que isto de ter filhos, e ainda por cima criá-los felizes, ia ser muito fácil, pois não?

Publicado na edição de 7 de setembro de 2014