EXIGIR QUE TU RESPONDAS IMEDIATAMENTE às mensagens dela, questionar-te sobre os minutos que passaram até que tu «finalmente» envias um sms de resposta ou escrever «Se não me respondes é porque não queres saber de mim» não revelam que ela se preocupa. E telefonar-te se tu não respondes logo não é um sinal de que ela gosta de ti. Não é uma manifestação de afeto. É apenas a prova de que ela é manipuladora e quer controlar os teus passos todos. Aliás, é por essa mesma razão que ela quer saber o que fizeste, porque o fizeste, com quem falaste e quanto tempo demoraste em cada sítio por onde passaste antes de ir ter com ela.
VIGIAR PERMANENTEMENTE a tua conta no Facebook e pedir-te satisfações sobre os «gostos» que colocas nas fotografias de outros, sobre as amizades novas que pedes ou aceitas ou sobre os comentários que outras pessoas – sobretudo raparigas – fazem às tuas imagens não é uma atitude normal. Nem saudável. E escusas de pensar que tu fazes o mesmo, por isso ela pode fazê-lo. Isso é errado.
MEXER NO TEU TELEMÓVEL sem a tua autorização é tão grave como vasculhar a tua carteira, a tua mochila ou as tuas gavetas. É uma invasão de privacidade. E não há nada que o justifique. Pensa nisso quando ela te pedir a password do e-mail, alegando que não deve haver segredos entre vocês.
RESPONDER-TE, QUANDO FALAS SOBRE A PRESSÃO QUE SENTES da parte dela, que as amigas também fazem o mesmo e que os namorados delas não se queixam não é uma resposta muito inteligente. Lá porque outros o fazem, isso não significa que esteja certo. E lá porque os namorados das amigas não se queixam, não quer dizer que se sintam bem com isso.
GOZAR CONTIGO – muitas vezes à frente de outras pessoas – não significa que ela é «apenas brincalhona». Fazer isso ou chamar-te nomes, por exemplo, é um típico ato de violência. Ao contrário do que ela ou outra pessoa qualquer te diga, a violência não ocorre apenas quando deixa marca física. Quando magoa. Quando deixa nódoas negras. A violência psicológica existe e é grave. Se tiveres dúvidas sobre isto, vai ao Google. Verás como a lei é clara quanto a isto. E olha que as pessoas que fazem as leis percebem alguma coisa do assunto.
ADMITIRES QUE PRECISAS DE AJUDA não é vergonha nenhuma. O facto de ela ser rapariga e tu rapaz não faz de ti menos do que os teus amigos. Aliás, ficarias espantado com a quantidade deles que recebem ordens das namoradas abusadoras. Elas não são o «sexo fraco» – isso não existe, por muito que ouças o teu pai dizer o contrário. Por isso não tens de te sentir mal por te sentires desconfortável. Por muito que custe admitir, é bem possível que tu sejas uma vítima e a tua namorada uma agressora. Quanto mais depressa encaixares isso na tua cabeça, melhor para ti. O género é apenas um pormenor.
A 23 de junho de 2013, uma crónica publicada nesta página tornou-se viral nas redes sociais. Com 130 mil partilhas no Facebook e mais de duzentas mil visualizações, «O teu namorado de 16 anos não é nervoso, é uma besta» alertava para a violência de género no namoro, exercida pelos rapazes em relação às raparigas. Esta é uma possível versão para eles.
[Publicado originalmente na edição de 9 de novembro de 2014]