Para quando um verdadeiro sabre de luz?

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Em 1977, quando se estreou o primeiro filme da Guerra das Estrelas, não era possível construir um sabre de luz, como os empunhados pelos jedis. Uma arma capaz de projetar um feixe luminoso convergente, como um laser, mas de propagação limitada e terminação abrupta, que corta paredes de aço como se fossem manteiga. Não era em 1977, não é hoje, e com toda a certeza não será em 2019, ano para o qual se espera o nono e último episódio da saga. Alguma vez será possível? Afinal, os impossíveis não são todos iguais. Em todos os filmes da Guerra das Estrelas ouvem-se explosões no espaço. Isso é e será sempre impossível, porque o som precisa de um meio para se propagar. Mas há impossíveis que deixam de o ser. Procurando nos nossos bolsos podemos encontrar vários impossíveis de há cem anos, como aparelhos que enviam instantaneamente som e imagem à distância ou que permitem ver a nossa localização num mapa. O físico norte-americano Michio Kaku no seu livro A Física do Impossível classifica os vários tipos de impossíveis, dos mais transitórios (coisas que a ciência e a tecnologia poderão tornar possíveis neste século ou no próximo) aos mais inabaláveis (aqueles que violam leis fundamentais da física, pelo menos tal como as conhecemos hoje).

E os sabres de luz? São de certo modo semelhantes aos lasers que alguns espetadores usam, indevidamente, nos concertos para colocar uma bolinha vermelha na testa do artista ou nos jogos de futebol para confundir os jogadores das cores contrárias. Mas há complicações técnicas por resolver.

O primeiro problema é que essas armas, qualquer que fosse o princípio do seu funcionamento, necessitariam de enorme quantidade de energia. Como não há baterias capazes de a armazenar no espaço do punho, os sabres teriam de estar ligados a fontes de alimentação. Seria uma confusão e um perigo, com uma profusão de jedis e siths aos tropeções em cabos, quedas e cabeças partidas. Ficariam em vantagem o Darth Vader e o Kylo Ren, porque usam capacete (o que parece bastante sensato).

Mas há mais problemas. Um feixe de luz não pode acabar abruptamente. Pelo que a luz não parece ser uma boa ideia para construir um sabre de luz. Michio Kaku propõe uma solução recorrendo a plasmas (um estado físico da matéria, distinto do sólido, líquido ou gasoso), delimitados por campos magnéticos. Poderia brilhar e cortar paredes de aço. Mas continuaria a ser necessário ligar à ficha.

PERISCÓPIO

A FÍSICA DO IMPOSSÍVEL
Michio Kaku é um físico teórico nova-iorquino, autor de vários livros de divulgação científica, tal como A Física do Impossível, publicado entre nós pela Bizâncio. Invisibilidade, estrelas da morte (como a de O Regresso do Jedi), teletransporte, telepatia, psicocinese e universos paralelos são alguns dos impossíveis discutidos e classificados de acordo com a hipótese que o autor considera terem de vir a tornar-se possíveis. As neurociências talvez nos permitam neste século algum tipo de comunicação telepática, mas uma máquina de movimento perpétuo afigura-se completamente impossível. Mas não é só física, Michio Kaku socorre-se das referências aos impossíveis na ficção e na cultura popular, porque as boas histórias são sempre possíveis!

[Publicado originalmente na edição de 27 de dezembro de 2015]