Nuno Borges, o exigente que adora fazer bolos

Nuno Borges é tenista

Experimentou a música, o futebol, a natação. Apaixonou-se pelo ténis. Perfecionista, fica horas fechado em si próprio depois de uma derrota. Nunca desiste.

Poucas horas depois de ter sido eliminado pelo russo Daniil Medvedev nos oitavos de final do Open da Austrália (3-6, 6-7, 7-5 e 1/6) e de ter feito história no ténis português, Nuno Borges confessava que ia aproveitar para fazer uma curta visita turística a Melbourne, cidade que acolhe o torneio, mas que os seus olhos estavam já focados no trabalho a desenvolver para a Taça Davis, na qual vai defender as cores nacionais.

O mais conceituado tenista luso da atualidade, número 69 do ranking mundial ATP – e com entrada garantida no top-50 na próxima atualização, após o torneio australiano -, é o espelho de um desportista cujo foco profissional jamais se desvia do essencial. “Sempre foi assim desde criança”, conta João Maio, ex-treinador e um dos melhores amigos de Nuno Borges. “Gostava de fazer tudo na perfeição. Se necessário, repetia por iniciativa própria os exercícios dezenas ou centenas de vezes até lhe saírem bem. Precisou de trabalhar muito para chegar onde chegou”, descreve João Maio.

Nascido na Maia, Nuno Borges chegou ao ténis quase por acaso. Com apenas seis anos estudava música e tentava arranhar os primeiros acordes de viola, praticava natação e tinha paixão pelo futebol, em particular pelo F. C. Porto, clube pelo qual o pai, Paulo Borges, foi campeão nacional de voleibol e de que é adepto. Chegou a equipar com as cores do F. C. Maia, mas as coisas não correram bem. “Ao fim de três ou quatro treinos participou num jogo com o Leixões e foram goleados 12-0. Pediu logo para deixar o futebol porque já então lidava mal com a derrota”, conta o progenitor. “Ainda hoje é assim. Quando perde, o melhor mesmo é não falar com ele e dar-lhe espaço.”

Depois da desilusão com o futebol, o ténis acabou por ser escolha quase natural. Experimentou-o primeiro nos courts do prédio onde morava, depois pediu aos pais para ingressar na Escola de Ténis da Maia. Filho único, ganhou gosto pelas raquetas e não mais as largou. Mas nunca imaginou que o profissionalismo fosse o caminho, mesmo quando os treinos passaram a exigir sessões que se prolongavam durante mais de cinco horas diárias, intercaladas pelo percurso escolar que nunca descurou e durante o qual se apaixonou pela área de Ciências. “Foi sempre um excelente aluno, com notas altas”, lembra o pai. Apesar do empenho no ténis, o profissionalismo era ideia que não lhe passava pela cabeça. “Tinha evidente qualidade, claro, mas nunca disse que queria viver do ténis, só queria melhorar como tenista. Aliás, ganhou o primeiro grande torneio apenas com 16 anos, quando foi campeão nacional daquele escalão”, exemplifica João Maio.

O ponto de viragem deu-se no acesso à universidade. Com 18 anos, queria o curso de Biomédicas e chegou a inscrever-se na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto com a certeza de que não seria possível conciliar o desporto de alto nível e os estudos. Surgiu a possibilidade de se candidatar à Universidade do Mississípi, nos Estados Unidos, onde completou o curso de Cinesiologia e simultaneamente usufruiu de uma bolsa que lhe permitiu continuar a treinar e a competir com os melhores. “Foi o ponto de viragem. Quando regressou a Portugal, quatro anos depois, era mais jogador e plenamente focado em seguir o ténis a 100%”, acrescenta João Maio, também diretor da Escola de Ténis da Maia. A estadia em terras americanas deu-lhe também a oportunidade de conhecer Anna, a namorada grega que não mais largou.

Optou então por mudar de treinador, agora o ex-jogador Rui Machado, e por mudar de armas e bagagens para o Centro de Alto Rendimento, em Lisboa. Continuou igual a si próprio, a seguir uma alimentação regrada que jamais abandonou e a só beber água e a dizer não a refrigerantes e álcool. “O único azar foi ter apanhado a pandemia pelo meio, o que o limitou um pouco. No entanto, continuou a crescer e os resultados estão à vista”, orgulha-se o pai.

Exigente, Nuno Borges pede sempre mais a si próprio como atleta. “Em termos físicos tenho muito a melhorar. Quero continuar a jogar os maiores torneios do Mundo e evoluir a competir. É a maior motivação que tenho”, disse depois do Open da Austrália, citado pelo site especializado em ténis Bolamarela.pt. Para acrescentar o nome de Portugal ao topo do ténis internacional. E para continuar a convidar amigos e familiares para comerem uma fatia de bolo que tanto gosta de confecionar ou para um jantar de leitão cada vez que vence um torneio ou alcança proezas maiores numa carreira que ainda vai a meio de um caminho de triunfos.

Cargo: Tenista
Nascimento: 19/02/1997 (26 anos)
Nacionalidade: Portuguesa (Maia)