Namorar faz mesmo bem à saúde

O amor é um condimento para o bem-estar geral, sim, mas há que respeitar opções

Aquele brilhozinho nos olhos, aquela pele viçosa, aquele sorriso no rosto, aquela felicidade. O amor é um bálsamo para o corpo e para a alma. Há, inclusive, evidências científicas sentidas por dentro e vistas por fora.

O amor e o seu poder infinito. O amor e os seus efeitos sem conta nem medida. O amor comanda a vida. Ou, pelo menos, devia. Senão, vejamos. O impacto na saúde física e emocional é tremendo. Namorar faz bem à saúde. Ora se faz. É o toque e a cumplicidade. São os beijos e os abraços. São as palavras e os silêncios. São os momentos de intimidade. São os risos e uma genuína alegria.

Amar e ser amado, essa necessidade de pertença, o desejo de caminhar lado a lado e construir em conjunto. Existir é amar. Amar é existir. Alberto Lopes, neuropsicólogo, hipnoterapeuta, autor do livro “Nem sempre faço sexo, mas todos os dias faço amor”, onde escreve “sem amor não somos nada” e aborda dinâmicas de enamoramento de forma didática, reflete sobre o assunto. “Todos nós precisamos de outro ser humano para nos acompanhar na viagem emocional da vida, alguém em quem confiamos e que possa aceitar os nossos sentimentos e processá-los em conjunto connosco.” Namorar é construir, a dois, o que realmente vale a pena. O neuropsicólogo lembra, a propósito, a expressão “temos fome de pele” de Tiffany Field, investigadora americana e fundadora do Instituto de Pesquisa do Toque da Universidade de Miami. “O amor e o contacto físico desempenham papéis essenciais na nossa existência, influenciando a nossa saúde física e mental, moldando as nossas relações e enriquecendo a nossa jornada pela vida. Portanto, como podemos negar a importância profunda desses elementos na nossa busca por uma vida saudável e plena?”, pergunta o neuropsicólogo. A resposta é uma pura questão de retórica.

A ciência comprova as virtudes do amor e o bem que faz à saúde. “Sim, existem vários estudos que sugerem que namorar ou ter um relacionamento romântico saudável pode ter benefícios para a saúde física e mental, promovendo o bem-estar emocional, a saúde cardiovascular (redução de ansiedade promovida pelo suporte emocional) e a adoção de hábitos saudáveis”, garante Catarina Lucas, psicóloga clínica e terapeuta de casal. “É mesmo realidade e a evidência científica prova-o. Vários estudos encontraram associações positivas entre os relacionamentos amorosos saudáveis e diversos indicadores de saúde”, acrescenta.

É o olhar, é a pele, é o ritmo cardíaco, é o sistema imunitário. O corpo sente por dentro e por fora. No que se vê e no que não se vê. Alberto Lopes também sabe o que os estudos científicos dizem sobre o assunto. “O contacto humano e o ato de namorar e estar emocionalmente ligado a alguém desencadeiam uma série de reações bioquímicas que têm profundos efeitos na nossa saúde física e mental.” Não são meras palavras, é mesmo assim. “Essa necessidade visceral de toque e proximidade não é apenas uma metáfora poética, mas uma realidade biológica que nos define como mamíferos sociais. Quando nos apaixonamos, o nosso corpo torna-se uma verdadeira fábrica de hormonas, com a ocitocina, conhecida como a hormona do amor, a vasopressina, a dopamina e as endorfinas”, adianta o neuropsicólogo. São substâncias químicas que dão a sensação de felicidade e aquela euforia dos apaixonados, além da construção de laços de confiança, menos stress e ansiedade, sistema imunitário mais robusto, prazer ativado no cérebro, realça Alberto Lopes.

O amor é um bem precioso e a saúde agradece. Namorar faz bem, reforça Catarina Lucas. “Internamente, a nossa saúde melhora, sobretudo a saúde mental. Externamente, alguns estudos indicam que a pele pode adquirir maior luminosidade, a expressão facial altera-se, já que pessoas em relacionamentos saudáveis, muitas vezes, têm uma expressão facial mais relaxada e radiante, refletindo a felicidade e o contentamento emocional. Além disso, o olhar também se pode tornar mais expressivo, é como se todo o rosto se iluminasse em jeito de manifestação de felicidade. Por vezes, até a postura corporal se altera, mais aberta, mais recetiva”, sublinha a psicóloga.

Alberto Lopes junta mais dados. “Além dos benefícios físicos, namorar alimenta o amor-próprio e a validação pelo outro, aspetos fundamentais para a saúde emocional. Sentir-se amado e fazer parte da vida de alguém contribui significativamente para a autoestima e para a perceção de valor próprio, e tudo isto é crucial para o nosso bem-estar psicológico.”

Fernando Mesquita é sexólogo e faz parênteses no tema: os efeitos variam consideravelmente, dependendo da qualidade da relação amorosa e das características individuais dos envolvidos, dos que se amam. De resto, tudo bate certo. “As relações amorosas saudáveis têm sido associadas a uma redução significativa nos níveis de cortisol (hormona do stress), a qual está correlacionada com uma diversidade de problemas de saúde, tais como distúrbios do sono, aumento de peso e comprometimento do sistema imunológico”, observa. Por outro lado, verifica-se um aumento nos níveis de ocitocina, hormona associada ao apego e à sensação de bem-estar. “Na fase de namoro, é igualmente frequente observar uma maior propensão para a adoção de comportamentos mais saudáveis, refletida em hábitos alimentares equilibrados, prática regular de exercício físico e manutenção de padrões adequados de sono”, destaca o sexólogo. Namoro saudável, melhor saúde mental, mais autoestima e maior autoconfiança.

O amor é um sentimento poderoso, capaz de mover montanhas, dizem. “O amor é um ingrediente essencial ao bem-estar da pessoa e, por consequência, a saúde, como um todo, reflete melhorias”, afirma Catarina Lucas. Não é o único elemento, mas é determinante. “O amor pode desempenhar um papel significativo na promoção do bem-estar emocional, psicológico e até mesmo físico das pessoas envolvidas em relacionamentos amorosos saudáveis”, considera a psicóloga. Alberto Lopes acrescenta: “Além disso, estudos indicam que pessoas em relacionamentos amorosos estáveis tendem a apresentar um menor risco de doenças cardiovasculares, depressão e ansiedade, bem como uma maior longevidade.”

Uma coisa são relacionamentos felizes, saudáveis, positivos. Outra coisa são relações infelizes. É necessário ter noção disso. Catarina Lucas aborda esse outro lado. “Relacionamentos abusivos ou disfuncionais podem ter efeitos negativos na saúde física e mental”, alerta a psicóloga. É necessário frisar, diz, que os efeitos são positivos quando as relações também o são, saudáveis, portanto. “Relações amorosas tóxicas têm o efeito inverso”, avisa. Fernando Mesquita chama atenção para esse ponto. “É essencial ter em consideração que nem todas as relações amorosas têm efeitos positivos, podendo até ter o efeito oposto, causando instabilidade emocional e stress”, comenta.

O amor é um condimento para o bem-estar geral, sim, mas há que respeitar opções. “Também há pessoas que vivem bem sem terem qualquer tipo de relação amorosa e, se essa for a sua vontade e não lhes causar mal-estar, também não há problema nenhum”, assinala o sexólogo.

Certo é que o amor tudo muda, tudo transforma. Alberto Lopes recorda o pensamento de Freud, o pai da psicanálise, que dizia que precisamos de amor para não adoecer. “O amor transcende a dimensão do mero sentir, constituindo-se como uma força transformadora que nos enriquece, nos valida e profundamente nos conecta tanto com a vida quanto com os outros.” Concluindo, namorar faz bem à saúde, os homens e as mulheres sentem e a ciência confirma. “Namorar, na sua essência, é uma jornada rumo ao conhecimento profundo de si e do outro, uma exploração das profundezas da conexão humana que nutre o corpo, a mente e a alma”, frisa Alberto Lopes que tem mais uma coisa a dizer. “O namoro é belo quando nos eleva, acrescenta e transforma.” Namorar não tem contraindicações. Está visto e revisto.