Jorge Manuel Lopes

Justin Timberlake, a nostalgia e o resto


Crítica musical, por Jorge Manuel Lopes.

Houve um tempo, quando este século era jovem, em que quase toda a música de Justin Timberlake era estado de graça. Findos os *NSYNC, o cantor, compositor e produtor americano encontrou ouro com um quarteto de álbuns pop-funk-r&b, canções e design sonoro brilhantes, crescente ousadia formal: “Justified” em 2002, “FutureSex/LoveSounds” em 2006, e os dois tomos de “The 20/20 Experience” em 2013.

Sucede que, na música popular como nas outras artes, é usual haver um teto, e os últimos 11 anos musicais de Timberlake são prova disso, entre canções avulsas (incluindo o êxito épico de “Can’t stop the feeling!”) e um álbum (“Man of the woods”, 2018) estimável mas à procura de faísca.

A forma é recuperada em parte no sortido de “Everything I thought it was” (RCA) que, ao longo de umas mas não inteiramente justificadas 18 canções e 77 minutos, se reapropria de atributos que fizeram das suas canções de antanho objetos admiráveis. Assim é com o deleite funk-disco, sensual e de precisão instrumental militar, em “No angels” e “Imagination”. Com a morosidade agridoce de “Flame” e “Drown”, esta última feita do mesmo tecido de “Cry me a river”. Com os laivos de Prince dos anos 1980 na balada sintética “Love & war”. Com a “slow jam” minimal “Technicolor”, que durante os seus sete minutos progride para algo mais acelerado e exultante – e era destas canções longas, mutantes, lúdicas e arriscadas que mais saudades se tinha em Justin Timberlake, algo que se repete na alegria radiosa de “My favorite drug”, um coração feito de bola de espelhos. As investidas para fora dos domínios clássicos têm resultados mais ambíguos. “Memphis” possui a sonolência de um Drake. Já no enquadramento afrobeats de “Liar”, que conta com uma aparição adequada do cantor nigeriano Fireboy DML, Justin Timberlake está em casa.

O tocante single “Selfish”, imenso mesmo com a exiguidade instrumental, é o primeiro de um lote final de canções introspetivas. Vão do sublime (“Alone”, noturna, piano e violino) ao nostálgico (os *NSYNC reúnem-se para “Paradise”, e é 2000 outra vez). Se estiver para aí virado, o homem brilha.