O mais novo primeiro-ministro gaulês de sempre é já apontado como forte candidato à sucessão de Macron. Homossexual assumido, tem raízes judaicas e cristãs ortodoxas. E é ultrapopular.
“Caro Gabriel Attal, sei que posso contar com a sua energia e empenho para pôr em prática o projeto de revitalização e regeneração que anunciei. De acordo com o espírito de 2017: superação e ousadia. Ao serviço da nação e do povo francês.” Foi com esta mensagem publicada na conta oficial da rede social X (ex-Twitter), a 9 de janeiro, que Emmanuel Macron justificou a nomeação de Gabriel Attal para primeiro-ministro, após o pedido de demissão de Élisabeth Borne, chamuscada pelas polémicas reformas das leis de imigração e do sistema de pensões de reforma.
Aos 34 anos, Attal tornou-se o mais jovem de sempre a liderar o Governo na longa história republicana de França e também o primeiro assumidamente homossexual. Prima por uma ascensão rápida na vida política que em tudo faz lembrar a de Macron e que dele faz um forte candidato à sua sucessão nas presidenciais de 2027. Tal como o atual inquilino do Eliseu, Attal também começou por militar no Partido Socialista, do qual se foi afastando em direção a uma visão política inclinada para o centro-direita. Foi com naturalidade que se inscreveu no En Marche, partido fundado e dinamizado por Macron em 2017. Então com 28 anos, tinha já experiência executiva como vereador na pequena cidade de Vanves, arredores de Paris. Antes, logo após concluir os estudos universitários e cumprir um curto estágio, fora conselheiro adjunto do ministro da Saúde, Benjamin Griveaux, e fizera história como o mais novo a desempenhar tal função.
Filho do produtor de cinema Yves Attal, judeu de origem tunisina falecido em 2015, e de Marie de Couriss, cristã ortodoxa com raízes gregas, Gabriel Attal viveu uma infância abastada e estudou na École Alsacienne, um dos colégios mais elitistas de Paris. Tem quatro irmãos, um deles um primo adotado por Yves e Marie após ficar órfão devido à morte dos pais num acidente de viação. Em 2007, Gabriel ingressou no prestigiado Instituto de Estudos Políticos de Paris, onde se especializou em Relações Públicas, já o bichinho dos jogos de poder dele se apoderara e o teatro amador lhe ocupava os tempos livres. Frequentou também um curso de Direito, que não chegou a terminar.
O primeiro cargo governamental teve-o em 2018, quando lhe foi confiada a Secretaria de Estado da Educação e Juventude, tinha apenas 29 anos. Foi então que começaram a surgir nas redes sociais rumores sobre a sua orientação sexual, sobretudo através de um ex-colega de faculdade, Juan Branco, que no Twitter lançou boatos sobre a matéria e causou desconforto entre os meios mais conservadores. Gabriel Attal desmontou a armadilha de forma simples, assumindo publicamente ser gay e dizendo que isso não lhe causava “qualquer tipo de constrangimento”. Em entrevista ao canal de televisão TF1, revelou mesmo como na adolescência contou à família que é homossexual. “Disse ao meu pai que me tinha apaixonado por um rapaz. Ele sorriu e afirmou simplesmente: ‘Finalmente falas sobre isso”, revelou. Também não fez segredo da longa relação que manteve com Stéphane Séjourné, conselheiro de Macron nomeado ministro dos Negócios Estrangeiros aquando da formação do novo Executivo. Separaram-se em 2022.
Depois de uma prestação considerada “positiva” pelos analistas como secretário de Estado, ganhou projeção nacional como porta-voz do Governo e foi sem surpresa que em julho do ano passado foi chamado a liderar o Ministério da Juventude. Entre as medidas que causaram impacto na opinião pública conta-se a ordem de proibição do uso das tradicionais abayas pelas estudantes muçulmanas, que assim passaram a estar impedidas de vestir longos mantos negros nas escolas públicas. A popularidade de Gabriel Attal escalou ao ponto de contar com uma taxa de aprovação de 40%, de acordo com um estudo do instituto Ipsos.
“É alguém com bons instintos políticos e um verdadeiro dom para a comunicação, além de ser um trabalhador esforçado”, definiu o jornalista e empresário Gilles Le Gendré, agora deputado, em declarações ao jornal “Financial Times”. Quem sabe não estará a falar, igualmente, do futuro presidente da República Francesa.
Gabriel Attal
Cargo: primeiro-ministro de França
Nascimento: 16/03/1989 (34 anos)
Nacionalidade: Francesa (Clamart)
