Vitiligo. A despigmentação da pele e suas manchas

As manchas do vitiligo podem aparecer numa área pequena e evoluir

Os melanócitos deixam de cumprir a sua função e as lesões surgem em várias partes do corpo. É vitiligo, uma doença autoimune, não contagiosa. A origem é desconhecida e há fatores que agravam o seu estado.

É a maior causa de despigmentação em todo o Mundo. Vitiligo é uma perturbação da pigmentação da pele. São aquelas manchas mais claras que surgem no corpo que não desaparecem, que não voltam a ganhar a tonalidade original. São para a vida. Não há sintomas que prevejam o seu aparecimento, não há forma de antever esta situação, mas há tratamentos que melhoram o aspeto das lesões. É uma doença crónica, não contagiosa, que altera o visual, a imagem. A forma de lidar com ela depende do perfil de cada um.

“O vitiligo é uma doença autoimune, em que ocorre uma desregulação do sistema imunitário, que passa a atacar os melanócitos, as células da pele que produzem pigmento”, descreve Helena Toda Brito, médica dermatologista do Hospital Lusíadas Lisboa. Ana Moreira, dermatologista da Allure Clinic, explica o que se passa no organismo. “Os melanócitos deixam de produzir a melanina, ficam preguiçosos.” Sem melanina, não há cor, a pele fica despigmentada, surgem aquelas manchas em várias partes do corpo. Fácil de ver, difícil explicar a origem. “Não existe uma causa estabelecida para o vitiligo. Todavia, reconhece-se a importância da influência genética nesta patologia, assim como a sua associação a outras doenças autoimunes, nomeadamente da tiroide”, adianta Ana Pedrosa, dermatologista da Insparya e do Centro Hospitalar Universitário de São João, no Porto. “A fricção local e os microtraumatismos continuados são espoletantes frequentes do aparecimento das manchas, que surgem caracteristicamente em áreas de atrito”, acrescenta. É uma doença multifatorial.

Essas manchas, tipicamente brancas, podem também ser rosadas ou com tonalidades intermédias, aparecem no rosto, na zona à volta dos olhos, pescoço, mãos, pés, cotovelos, joelhos, na área genital. Podem aparecer numa área pequena e evoluir. “Os pelos nestas manchas surgem brancos”, avisa Ana Pedrosa.

A despigmentação da pele é silenciosa, aparece sem aviso. Numa fase inicial, raramente causa vermelhidão ou prurido. “A gravidade não é nenhuma, não dá comichão, não dá dor, é só mais pela parte estética”, realça a dermatologista Ana Moreira. É uma doença com predisposição genética e não é contagiosa. Segundo Helena Toda Brito, não é possível evitar o aparecimento do vitiligo, mas é possível evitar os fatores que desencadeiam a doença. São vários. Stress, queimaduras solares, traumatismos locais, tatuagens. “A progressão da doença é imprevisível e muito variável, podendo manter-se estável, regredir parcialmente ou alastrar progressivamente. Embora não seja possível impedir totalmente a progressão da doença, é possível evitar fatores desencadeantes como, por exemplo, proteção solar, adotar um estilo de vida saudável para reforçar o sistema imunitário (dieta saudável, exercício físico, redução do stress) e, quando indicado, realizar tratamento de manutenção indicado pelo médico dermatologista”, sublinha a especialista do Hospital Lusíadas Lisboa.

O sol não é proibido

O vitiligo manifesta-se em cerca de 1% da população mundial. Não há um padrão definido na forma como ataca, tanto afeta homens como mulheres. “É mais frequente no adulto jovem, a idade média é de 20 anos, no entanto, pode surgir em qualquer idade, sendo raro em recém-nascidos e idosos”, diz Helena Toda Brito.

A despigmentação é crónica, mas há tratamentos. Segundo Ana Moreira, alguns corticoides, cremes e pomadas, fototerapia, estimulação com sol em meio controlado. Helena Toda Brito lembra que atualmente não há cura, mas há formas de melhorar o aspeto das lesões. “Os tratamentos tópicos, de aplicação local nas lesões, e a fototerapia, fontes artificiais de radiação ultravioleta, são os tratamentos mais utilizados para ajudar a restaurar a cor da pele”, indica.

“Existe tratamento que passa sobretudo pela utilização de cremes e pomadas medicamentosas com ação anti-inflamatória que visam suprimir a reação inflamatória contra as células que produzem melanina”, acrescenta Ana Pedrosa. A fototerapia com controlo médico e realizada em ambiente hospitalar é também uma opção terapêutica. “Mais recentemente, com a expansão do conhecimento sobre as vias patogénicas do vitiligo, têm sido desenvolvidos novos fármacos mais dirigidos e de aplicação local promissores para o tratamento”, revela a dermatologista do São João.

O sol não é proibido, até ajuda na pigmentação da pele, obviamente com todos os cuidados e mais alguns, cumprindo horários aconselhados, com todas as precauções, previdências redobradas. “A proteção solar é fundamental, uma vez que as manchas sem pigmento são extremamente sensíveis à radiação ultravioleta e, consequentemente, às queimaduras solares”, destaca Ana Pedrosa.

O vitiligo mexe naturalmente com a parte estética. Está à vista em algumas partes do corpo. “Tudo o que é na pele acaba por chamar a atenção e causa estigma, tudo o que é cutâneo é visível”, repara Ana Moreira. Há produtos cosméticos e autobronzeadores que ajudam a camuflar, só que está tudo na cabeça de quem sofre na pele. “Depende do perfil psicológico, da profissão, varia de pessoa para pessoa”, salienta a dermatologista da Allure Clinic. Mais confiança ou menos confiança, mais autoestima ou menos autoestima, mais conforto ou mais desconforto. Os olhares dos outros têm o peso que se lhes atribui.

Há alguma altura do ano mais sensível para quem tem vitiligo? “O seu aparecimento e evolução não são afetados pelas estações do ano, embora as lesões possam tornar-se mais evidentes no verão porque a exposição solar aumenta o contraste das manchas brancas com a pele circundante mais bronzeada”, responde Helena Toda Brito. “Além disso, a ocorrência de uma queimadura solar, escaldão, para além de aumentar o risco de cancro de pele, pode desencadear o aparecimento de novas lesões de vitiligo”, adiciona.

O vitiligo não escolhe época do ano. O problema é o degradê. “Pode surgir em qualquer altura do ano, embora seja mais notório o aparecimento das manchas no verão pela diferença de coloração em relação à pele adjacente que bronzeia, ou seja, pigmenta com a exposição solar”, aponta Ana Pedrosa. Uma questão de contraste na pele, portanto. Mas, para isso, também há remédio, também há solução. Com todo o cuidado, como convém.