Rita Sá Machado: a jovem determinada

Rita Sá Machado é diretora-geral da Saúde

Investiu na formação e sabe o que quer. A nova diretora-geral da Saúde é ambiciosa e está habituada a cumprir os sonhos. Uns dizem que é nova de mais para o cargo, outros que está no lugar certo. É a terceira mulher à frente da DGS.

Que é demasiado nova, alegam algumas vozes, lembrando que o cargo requer experiência e grande conhecimento de causa. Outras, porém, defendem a necessidade de “uma liderança jovem e fraturante, com nova visão”, numa casa depauperada pela falta de condições. Alguém capaz de cortar a direito, exigindo o que Graça Freitas, a antecessora, ao leme numa das fases mais difíceis da história epidemiológica do país, não teve.

Por estar disposta a reivindicar autonomia financeira e reforços – sabendo bem que daí depende o seu sucesso no cargo – há quem lhe chame “uma mulher do Porto”. Lembrando que com Manuel Pizarro, o ministro, Fernando Araújo, o CEO do Serviço Nacional de Saúde (SNS), e, agora, Rita Sá Machado, a diretora-geral, “a saúde virou a norte”. Numa altura em que o SNS vive uma crise profunda.

“A assunção do cargo é feita num momento difícil. É um lugar de responsabilidade acrescida, atendendo à situação do SNS”, diz Miguel Guimarães. O antigo bastonário e a nova diretora-geral cruzaram-se em tempos pandémicos. “Estivemos juntos em algumas reuniões. E sei que muitos olham para a idade, defendendo que o lugar exige mais experiência. Podendo faltar alguma experiência, nesta fase o mais importante é ter gente nova, com visões diferentes.” Porém, dos seus 36 anos, não estamos propriamente perante uma novata. “Do que conheço, tem experiência na liderança de alguns projetos no âmbito da própria Direção-Geral da Saúde (DGS) e na Organização Mundial de Saúde (OMS)”, acrescenta.

Estruturas pesadas como a DGS, “dificilmente serão renovadas sem um pensamento diferente”. A importância de chamar a si uma equipa competente “é fundamental”. Como é fundamental que o ministro e o diretor executivo do SNS “lhe deem essa oportunidade, colocando à disposição as condições que a anterior direção não teve”, considera Miguel Guimarães.

O mandato é longo – cinco anos – e a escolha do nome, feito à margem da Comissão de Recrutamento e Seleção para a Administração Pública, responsabiliza diretamente o ministro.

A faculdade foi marcada pelo associativismo estudantil, a vocação para o terreno e um sonho – trabalhar na OMS, ambição cumprida. E dela diz-se que é “muito ambiciosa”.

Foi consultora da OMS Europa nas áreas de Migração e Saúde, e Evidência, Investigação e Inovação (2015-presente), e consultora internacional da OMS no projeto da União Europeia “Open Communities, Successful Communities”, com especial enfoque para as áreas de Vigilância e Planos de Contingência (2018 – presente)

“Foi um nome surpreendente”, assume Gustavo Tato Borges. “Sabia-a na OMS e não imaginava que tivesse vontade de regressar. Foi uma boa surpresa. Tem uma visão muito positiva e interessante da saúde pública.” Gustavo Tata Borges, presidente da Associação de Médicos de Saúde Pública, e Rita Sá Machado conhecem-se desde crianças. “O pai dela trabalhou na empresa do meu avô. Brincávamos juntos nas festas de Natal da empresa. Era uma miúda tímida e divertida.” Mais tarde, acompanhou o percurso no internato. “Honesta, trabalhadora, exigente.” Desafiadora. Capaz de manter uma boa relação com a equipa. Boa capacidade técnica.

Apostou tudo na formação. Após o mestrado integrado em Medicina pela NOVA Medical School, Universidade Nova de Lisboa (2005-2011), o “interesse genuíno por novas realidades e vivências” levou-a a Inglaterra. Fez mestrado em Saúde Pública pela London School of Hygiene and Tropical Medicine, University of London (2013-2014), regressando ao Porto para uma pós-graduação em Medicina do Viajante na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (2013).

“É combativa, assertiva, disponível. Mas é necessário que lhe sejam dadas condições. Espero que tenha capacidade reivindicativa. Sem isso, não fará um bom lugar”, avisa Ricardo Mexia, especialista em Saúde Pública.

A mulher que liderou o surto de sarampo, em 2018, no Centro Hospitalar do Porto, trabalho reconhecido pelos pares, vai tomar posse no dia 1 de novembro. É a senhora que se segue.

Rita Manuel Sá Machado
Cargo:
diretora-geral da Saúde
Nascimento: 12/08/1987 (36 anos)
Nacionalidade: Portuguesa (Porto)