Reflexão sobre tubarões
A ilha da Reunião, situada no oceano Índico a leste da costa de Madagáscar, tem uma das costas mais perigosas do Mundo devido aos ataques de tubarões. As suas águas mornas e límpidas atraem turistas e surfistas, mas os ataques do predador marinho subiram mais de 20% na última década e as histórias de terror multiplicam-se. Não se trata apenas de investidas a surfistas, que os tubarões vêm como peixes doentes e fracos, mas também a pessoas e cães que passeiam à beira-mar, com água pouco mais acima dos tornozelos. A ilha, também conhecida como o Haiti da França, faz-me lembrar uma frase de Truman Capote em uma das suas obras mais populares que deu origem ao filme homónimo, “Breakfast at Tiffanny’s”, em português, “Boneca de luxo: “É melhor olhar para o céu do que lá viver”. Depois de três anos de investigação levada a cabo por uma equipa do Instituto Nacional Francês de Pesquisa e Desenvolvimento na qual três fundações, uma regional, uma nacional e uma europeia se juntaram, surgiram três teorias possíveis: a pesca excessiva de peixes de pequeno e médio porte em alto-mar obrigaria à deslocação dos tubarões para perto da costa, as águas lamacentas devido ao crescimento urbanístico, e ainda a existência do vulcão Piton de la Fournaise em atividade que origina flora e fauna ricas. Na mesma latitude estão as belas ilhas Maurícias, onde os turistas nadam sem perigo e podem observar a fauna marinha da qual fazem parte os simpáticos golfinhos.
Durante a época balnear, outro tipo de predadores sai para a rua em todas as estâncias do Mundo. São novos e bonitos, com abdominais que parecem tabletes de chocolate, arranham vários idiomas, o suficiente para encetar uma conversação básica, e faturam como podem, seja em espécie, em refeições, em estadias em hotéis ou em viagens. Já os vi em ação nas ilhas do Caribe, em Cuba, na zona sul do Rio de Janeiro, em Saint-Tropez e em Capri, embora nestes dois últimos destinos se apresentem impecavelmente vestidos com polos Loro Piana e loafers Gucci, confundindo-se facilmente com os milionários que por lá passam férias.
Ainda voltando à ilha da Reunião, importa destacar um facto interessante: os tubarões-martelo e os tubarões-tigre, que são as espécies mais abundantes e se contam entre as mais agressivas, não atacam os mergulhadores quando estes nadam debaixo de água, equipados com fatos, garrafas e arpões. A razão é simples, um predador reconhece sempre outro predador.
Na cadeia alimentar, um predador raramente ataca outro predador de igual porte, a não ser que este esteja doente ou mostre sinais de fraqueza. As noções básicas do comportamento animal que adquiri através do meu pai, biólogo de formação e eterno interessado pelo comportamento de todas as espécies, incluindo a minha, têm-me sido assaz úteis para entender o Homo Sapiens. Os homens são predadores por natureza. O homem caça e luta, a mulher intriga e sonha. Tanto faz se são narcejas ou loiras, patos ou morenas, perdizes ou ruivas. Mas quando um macho se cruza com uma fêmea predadora, as regras do jogo mudam. Quem vai apanhar quem? Costumo dizer que o namoro consiste em um homem andar atrás de uma mulher até ela o apanhar. Mas existe uma diferença entre uma aventura de verão e um namoro. Convém nunca esquecer que é abismal.