Pedro Proença: mau feitio, gel e carreira de topo

Pedro Proença é presidente da Liga Portuguesa de Futebol Profissional e da Associação de Ligas Europeias

Foi o mais prestigiado árbitro português, dirige a Liga de Clubes e foi nomeado presidente das Ligas Europeias. Pensou sempre alto e ao alto chegou.

O jogo de estreia de Pedro Proença na mais alta categoria da arbitragem nacional não poderia ter corrido pior. A 10 de setembro de 2000, a partida entre Aves e Campomaiorense terminou empatada a dois golos. Contestado, o então jovem juiz de 29 anos foi obrigado, no final, a aguardar no balneário durante duas horas antes de poder abandonar o estádio sob proteção policial. O episódio não esmoreceu a vontade de continuar a missão que dez anos antes iniciara: a de ser árbitro e um dos melhores.

“Quando tirou o curso, em 1990, dizia que o seu grande objetivo era subir escalão a escalão com a motivação de chegar à I Liga e dirigir grandes jogos a nível nacional e internacional”, lembra o ex-árbitro Pedro Henriques, amigo de Pedro Proença há mais de três décadas. Já nessa altura Proença se destacava dos demais. Pela postura, pela ambição, pelas ideias. “Tinha em mente que era necessário contrariar aquela ideia de que os árbitros tinham barriguinha e gostavam era de comer uns petiscos após os jogos”, destaca Pedro Henriques. “Além de que internamente foi depois dos primeiros e mais vigorosos defensores da profissionalização do setor”, aponta o também ex-árbitro José Leirós.

A arbitragem de futebol surgiu na vida de Pedro Proença no alvor dos seus 20 anos. O desporto fazia parte direta da sua vida desde a adolescência. Jogou andebol no Sporting, transferiu-se depois para o Benfica, clube que de que nunca negou ser adepto. E foi precisamente de um sócio benfiquista que sofreu na pele o pior momento da sua carreira, quando foi agredido à cabeçada em pleno Centro Comercial Colombo, em Lisboa, a 8 de agosto de 2011, após sair de um treino de ginásio. Sofreu ferimentos na boca e partiu dois dentes. Ainda em recuperação, escreveu na página pessoal do Facebook: “Podemos cair e ir ao tapete, mas nunca nos vencerão”.

Natural de Lisboa, foi sempre bom aluno e completou sem dificuldades de maior o curso superior de Gestão. Simultaneamente, cumpriu o curso de arbitragem e aos fins de semana foi acumulando jogos nos pelados do campeonato distrital de Lisboa. Revelava um “mau feitio” que se lhe colou à pele e dava motivo de provocação aos mais próximos. “Quando os árbitros faziam peladinhas entre eles e a equipa do Pedro perdia, os vencedores iam festejar para junto dele só para o irritar”, confessa Pedro Henriques. “Durante os jogos gritava muito com os companheiros, por isso passou a ser conhecido pelo ‘Gritos’”, acrescenta. Outra alcunha lhe ficou para sempre: o ‘Gelinho’. Porque nunca abdicou de se apresentar sempre com o cabelo aprumado e moldado com doses consideráveis de gel. Em campo, ficou conhecido por manter uma postura mista de autoridade e proximidade com os jogadores, a quem tratava por “meus queridos”.

Antes de assumir o primeiro mandato na Liga Portuguesa de Futebol Profissional – vai no terceiro e último, por imposição legal – era proprietário de duas empresas, técnico oficial de contas e administrador de insolvências. Dizia, em entrevista à “Notícias Magazine” concedida em 2014, que quando terminasse a carreira de árbitro queria “retomar muitos projetos em standby. O destino trocou-lhe as voltas.

Dois anos antes, vivera o melhor período da carreira, ao arbitrar as finais da Liga dos Campeões, entre Chelsea e Bayern Munique, e do Campeonato Europeu, que colocou frente a frente Espanha e Itália. Nunca um árbitro português chegara tão longe, nunca outro entretanto lhe superou o feito.

Divorciado e pai de Joana, 14 anos, Pedro Proença mantém um círculo de amizades próximas que lhe ficaram do tempo da arbitragem. Todas lhe destacam o empenho que coloca nas tarefas profissionais a que se propõe – “leva tudo muito a sério ao nível da excelência e da competência nas instituições que serve” – e uma personalidade muito particular – “não é a pessoa mais afável do Mundo, mas é leal e incapaz de apunhalar alguém pelas costas”.

É esse homem que vai agora assumir a presidência da Associação de Ligas Europeias, até 2025, que reúne 40 campeonatos de 34 países, num total de mais de mil clubes. Será o primeiro português de sempre no cargo.

Pedro Proença Oliveira Alves Farcia
Cargo:
presidente da Liga Portuguesa de Futebol Profissional e da Associação de Ligas Europeias
Nascimento: 03/11/1970 (53 anos)
Nacionalidade: Portuguesa (Lisboa)