O meu objeto: o boneco de Rui Paixão

Rui Paixão está de novo no Cirque du Soleil, agora em Orlando, Estados Unidos. É uma das personagens principais do espetáculo “Drawn to life”, uma parceria da companhia canadiana com a Disney

O objeto escolhido pelo ator, palhaço e performer Rui Paixão.

“Vivi na China por mais de um ano. Uma experiência cultural extraordinária que me fez vislumbrar a beleza das tradições e das projeções futurísticas, mas que também me serviu como alerta e advertência.

Este é o único objeto que trouxe comigo dessa aventura, dada a minha fuga repentina do país em pleno início da pandemia. Um pequeno boneco de plástico que, se pressionarmos um pequeno botão nas suas costas, troca rapidamente a cor da máscara. É uma referência a uma antiga arte teatral chinesa chamada Bian Lian e que faz parte da Ópera de Sichuan. À medida que me fui apaixonando pela arte na China, comecei a escavar bem fundo e a dar-me conta de que o contexto político deste país censura obras, oprime e bane artistas, como são exemplo dois dos que mais admiro: Ai Weiwei e Yan Lianke.

De regresso, parece que a velocidade de mudança aumentou e, em 2023, voltamos a assistir na Europa a escândalos de livros censurados, artistas banidos e cancelados por coisas que dizem, escritores esfaqueados, o medo de dar opinião contrária… a liberdade de expressão posta em causa novamente vinda agora de diferentes frentes.

Apesar deste objeto ter sido a única memória palpável que trouxe daquela viagem, prova-me agora ser a mais importante. Tal como a rápida mudança das máscaras, também nós devemos ter urgência numa mudança definitiva das nossas raízes para que não continuemos a abrir brechas para a ascensão de políticas e pensamentos fascistas. Lembrar que a liberdade é e será sempre um ‘work in progress’.”

Ator, palhaço, performer
27 anos