O incêndio que destruiu a Igreja de São Domingos

O fogo pouco mais deixou do que a estrutura

A rubrica "Máquina do Tempo" desta semana recorda um dos maiores incêndios registados pelos Bombeiros de Lisboa.

Ninguém pôde dizer ao certo o que se passou, mas uma teoria ganhou consistência. Não se deu por ela, a tempo de fazer a diferença. Naquela noite de 13 de agosto de 1959, há 64 anos, uma faúlha voou de uma chaminé próxima e entrou na Igreja de São Domingos, em Lisboa.

Quando o crepitar já era alto, bem como as chamas, foi tarde de mais. “Correu de boca em boca, invadiu todos os lares, como todas as notícias que anunciam as grandes tragédias e catástrofes, a quebrar a serenidade do fim de um novo dia calmo e de trabalho…”, leu-se no “Diário de Notícias” da manhã seguinte. Mandada erigir no século XIII, por D. Sancho II, a Igreja já tinha sido parcialmente destruída pelo terramoto de 1531.

Mas naquela madrugada de inferno também pouco se conseguiu fazer. Os bombeiros, voluntários e sapadores da cidade, num total de 300 homens, fizeram tudo. Francisco Silva Gomes e João Francisco, ambos sapadores, até a vida perderam, na sequência do abatimento de toda a zona do coro. Para além das duas mortes, houve 22 feridos a lamentar.

O fogo pouco mais deixou do que a estrutura. Ficou a sacristia, as portas de mogno e as imagens de Nossa Senhora da Escada e de Nossa Senhora da Nazaré. Perderam-se os frescos pintados no teto, tesouros barrocos, entre os quais se encontrava um quadro a óleo que se acredita ter sido pintado por Josefa de Óbidos. O pouco que tinha resistido ao terramoto de 1755, que deitou abaixo praticamente toda a construção (menos o altar-mor), desapareceu. Tudo consumido como se de um braseiro de proporções malignas se tratasse.

Ao longo da história, o templo testemunhou muitos e relevantes acontecimentos, como casamentos e batizados reais. Foi também dele que partiram, em procissão, para a fogueira, muitos condenados pela Inquisição. Hoje, guarda tesouros como a metade de um lenço usado pela Irmã Lúcia no dia 13 de outubro de 1917, o terço usado por Santa Jacinta Marto no mesmo dia e o túmulo de D. Afonso.

Apesar de recuperado e de reaberto ao público, em 1994, este Monumento Nacional ainda mostra vestígios desse desastre que ficou registado como uma das situações mais graves enfrentadas pelos bombeiros portugueses.