Marcelo Valente materializa peças com o que a natureza dá

Marcelo Valente é designer e artista, em Var, França

Designer e artista, trabalha com o digital e técnicas artesanais, valorizando a biodiversidade, recuperando processos ancestrais. Marcelo Valente está em França há 18 anos.

O seu caminho andou sempre pelos trilhos da arte. Depois de três anos no curso de Desenho Artístico da Escola Superior Artística do Porto, Marcelo Valente queria continuar a estudar. Já com uma licenciatura, candidatou-se à única vaga nacional que havia na altura para o que tinha em mente, entrou em Design de Comunicação, na Faculdade de Belas Artes do Porto. Depois, um ano de Erasmus em Barcelona. Voltou a Santa Maria da Feira, sua cidade, e sentiu que tinha de voltar a partir. “Tinha de sair, a minha cabeça pedia para ver Mundo”, recorda. Vendeu o carro, comprou uma máquina de vídeo, andou a ver amigos pela Europa.

Voltou a Santa Maria da Feira, fez algumas colaborações com a Companhia Persona, grupo de artes performativas da cidade. “Tínhamos um teatro para experimentar”, lembra. Trabalhava com vídeo e fotografia. Conheceu, entretanto, a companhia Komplex Kapharnaum, em 2004, num Imaginarius, festival internacional de teatro de rua da Feira, estabeleceu uma relação e, até ao fim desse ano, ia trabalhando com esse coletivo artístico instalado em Lyon, França. Em 2005, fez as malas e mudou-se para lá. O que seriam uns meses, foram anos. Tornou-se artista intermitente. Hoje, 18 anos depois, Marcelo Valente vive em Var, no sul de França, a 40 minutos da praia, a 40 minutos de Toulon.

Em 2018, fundou o Magma Studio com a sua mulher Magalie Rastello, também designer. Juntos criam peças, fazem impressão 3D em cerâmica, trabalham com museus, câmaras municipais, instituições culturais. “Há uma consciência ecológica de trabalhar com materiais locais. Fazer muito com pouco. Fazer melhor com quase nada”, explica. Design local e sustentável com o que a natureza dá, água, barro, sol, vento. Marcelo dá alguns exemplos. Como conservar o cântico dos pássaros para que seja possível ouvir daqui a três mil anos? Da pergunta nasceu um disco de vinil feito em cerâmica no qual se pode escutar esse cantar das aves. Do tronco de um sobreiro que ardeu, nasceu um banco em grés preto com a mesma textura da cortiça. Cinzas vegetais dão origem aos esmaltes, aos vidrados que usa. Recupera processos ancestrais, técnicas tradicionais de produção aliadas ao design digital. Cria um vocabulário de formas singulares através da impressão 3D em cerâmica. “São projetos experimentais, gosto muito de experimentar.”

Marcelo Valente também dá aulas, no ano passado, foi responsável pelo ateliê de cerâmica na Escola de Belas Artes de Marselha. Neste momento, é professor de criação digital, imagem projetada no espetáculo, na Universidade de Toulon. Gosta de ensinar, de trabalhar com alunos. “É uma necessidade querer ensinar ao fim de 20 anos de prática”, conta.

A arte é muita coisa para si, uma extensão do seu ser, a forma como o Mundo se cultiva e se mostra. A arte dá-lhe muito. “A capacidade de ser criativo. A arte é o reflexo de uma expressão cultural.” De vez em quando, anda em residência artística, volta e meia vem em trabalho a Portugal. Regressar? Por enquanto, não está nos seus planos, é uma resposta que, neste momento, não consegue dar.

Marcelo Valente
Localização: Var, França 43º 41’ 31’’ N 5º 54’ 28’’ E (GMT+1)
Profissão: designer e artista
Idade: 47 anos