José Luís Carneiro: o homem que não nasceu ensinado

José Luís Carneiro é ministro da Administração Interna

Um estudioso, diz quem o conhece. “Muito ponderado, sensato, equilibrado, organizado, trabalhador e de confiança. Muito respeitado.” Não é fácil encontrar na Oposição quem assuma críticas ao ministro da Administração Interna.

Há dois jovens que não o esquecem. Dois irmãos lusodescendentes – ela, estudante de Medicina; ele, de Direito – nas prisões de Nicolás Maduro por “sabotagem económica”. De visita à cadeia, em Caracas, Venezuela, estão a mãe, o embaixador Júlio Vilela e José Luís Carneiro. A rapariga e o rapaz olham-no, um olhar petrificado. Medo. E ânsia de libertação. “Tenho esse olhar gravado, nunca o esquecerei.” Conseguiu libertá-los.

Durante quatro anos, deu a cara sempre que chegavam notícias más, de portugueses em risco pelo Mundo fora. Apresentando condolências a pais e filhos, transladando e libertando corpos, fazendo chegar a casa sobreviventes. Dir-se-á que se limitou a cumprir a função. Porém, quem o conhece, fala de uma empatia que ultrapassa, em empenho e cuidado, cumprimentos formais, por mais sensíveis que sejam. “A forte empatia é uma das marcas distintivas”, diz Augusto Santos Silva, antigo ministro dos Negócios Estrangeiros. José Luís Carneiro foi seu secretário de Estado das Comunidades ao longo de quatro anos. O atual presidente da Assembleia da República recorda o ciclone Idai que assolou Moçambique e levou, de início, a críticas severas da comunidade portuguesa ao Governo de António Costa. Carneiro chefiou a resposta de emergência. Viajou com as Forças Armadas. “Comportou-se como um operacional, um homem do terreno, procurando, de porta em porta, por notícias de portugueses.” Conseguiu apaziguar uma comunidade desavinda com o país de origem.

Não espantou, por isso, a nomeação para ministro da Administração Interna, a pasta das grandes tragédias nacionais, quente e volátil, ocupada anteriormente pelo mal-amado Eduardo Cabrita. “É muito competente e dedicado”, continua Santos Silva, com exemplos: “Trabalha os assuntos a fundo. Como bom professor universitário, estuda, estuda, estuda. Prepara-se muito, sempre com humildade intelectual”. Resumindo, “ao contrário dos que sabem tudo, ou acham que sabem, o José Luís Carneiro não nasceu ensinado e essa é uma das suas grandes vantagens”.

Acorda às seis da manhã. Lê as notícias do dia, atento aos sistemas de alerta de proteção civil. Nunca desliga, claro, o telemóvel. Não se deita antes de ver as capas dos jornais do dia seguinte. “Como membro de equipa é de uma lealdade absoluta. Como líder de equipa é de uma enorme competência”, diz Santos Silva. Da confiança de António Costa, que o escolheu para secretário-geral adjunto, é admirador de António Guterres. Não faltou a Seguro. Nem a Francisco Assis, de quem foi chefe de gabinete nos anos em que aquele liderou a bancada parlamentar socialista. “Muito ponderado, sensato, equilibrado, organizado, trabalhador e de confiança. Muito respeitado”, frisa o atual presidente do Conselho Económico e Social. Descreve um político “fleumático, dado a consensos e nada a ruturas e, sobretudo, capaz de ouvir o outro, no sentido de ajudar, muito influenciado pela matriz católica”.

Na Universidade Lusíada, em Relações Internacionais, foi o melhor aluno do curso de 1989. Em criança, porém, queria ser jogador de futebol. E tinha jeito. Simpatizante do Benfica, o “vício” é tal que nos ministérios por onde passa forma equipa, com direito a equipamento especial. Camisola 7, a de médio ofensivo. “Distribuidor de jogo”, diz, garantindo que detesta perder.

A conversa segue pelos anos do melhor futebol, do pingue-pongue, das pescarias de truta e pargo nos rios Ovil e Bestança, onde aprendeu a nadar. Da adolescência com as baladas de Kenny Rogers, das aulas de acordeão e de órgão. Segue por Baião, onde nasceu e onde foi, por três vezes, presidente de Câmara, decidido a fazer na terra natal “um 25 de Abril”.

Da escola primária, apenas ele e mais dois seguiram os estudos. Nos finais dos anos 1970, persistia a distinção entre menino e moço. “Os alunos de família com mais posses eram meninos; os outros, os moços. Na minha sala eram todos meninos.” Anunciação Baptista, a professora primária e amiga, recorda “um menino de bata branca sempre muito lavada, muito composto, com cadernos escolares impecáveis, letra bonita, muito concentrado”. Muito bom a Desenho e a Português. E a História. José Luís Carneiro, católico praticante, quis um dia ser missionário. Foi jornalista, autarca, secretário de Estado das Comunidades, secretário-geral adjunto do PS, professor. É ministro. Dizem que gostaria de ser presidente da Câmara do Porto, que poderá substituir António Costa no partido, unindo duas alas. Ele vê-se professor. “Até lá, só quero fazer bem o que estou a fazer. Cumprir a missão.” Nunca perdeu o sotaque baionense.

José Luís Pereira Carneiro
Cargo:
Ministro da Administração Interna
Nascimento: 04/10/1971 (51 anos)
Nacionalidade: Portuguesa (Campelo, Baião)