José Fontelas Gomes: o observador em jogo

José Fontelas Gomes é presidente do Conselho de Arbitragem da Federação Portuguesa de Futebol

O líder dos árbitros fala pouco e observa muito. Por isso, apanha bem as pessoas. “Manda uma bocas certeiras com muito humor que fazem sorrir a plateia.” É individualista e teimoso.

Não fuma, pouco ou nada aprecia a mesa, não gosta de café, não bebe álcool – muito raramente, serve-se de meio copo de vinho branco. “Um bocadinho menos de meio”, corrige. “Há pouco, a pensar no que lhe poderia dizer sobre mim”, acrescenta, “percebi que sou muito monótono, muito normal”. Normal tanto quanto é alguém capaz de acompanhar dourada grelhada com Coca-Cola. Tanto quanto é alguém que escolheu ser árbitro de futebol.

Foi na praia de Buarcos, Figueira da Foz, em setembro de 2013, nas barbas da Polícia Marítima – terminado o jogo de meias-finais, sujeito a prolongamento, o treinador da equipa derrotada foi direto a ele. E pregou-lhe “uma chapada”. À saída do hospital, onde lhe aconselharam vigilância e repouso, o árbitro internacional de futebol de praia pediu o afastamento do agressor e melhor policiamento. Anunciou uma queixa-crime, que levou por diante. Zero. O agressor foi ilibado nos tribunais.

À época, José Fontelas Gomes era também presidente da Associação Portuguesa de Árbitros de Futebol (APAF). “Experiência que foi um desafio à minha natureza, antes de mais”, diz, referindo a exposição mediática inevitável num mundo quase sempre sob crítica e insulto. Da natureza dele, manifestada desde a infância, é a timidez. Passar despercebido. “É muito discreto, envergonhado, até”, dizem amigos. Mas também “ágil a encontrar soluções”.

A liderança da APAF antecedeu a função que ocupa desde 2016, ainda mais sob fogo. Basta dizer que ainda mal a Liga principal começou e já as arbitragens fazem manchete. E com elas o presidente do Conselho de Arbitragem da Federação Portuguesa de Futebol.

“Tenho uma capa protetora. As pessoas não conseguem mexer comigo”, diz aos 46 anos. Pelo sim, pelo não, não vê programas televisivos desportivos. “Chamarem-me desonesto seria o pior insulto. Nunca mo disseram.”

Quer abertura e transparência do organismo a que preside. Lamenta que a franqueza dos árbitros – afirmando, por exemplo, a preferência clubística – seja tão mal interpretada em Portugal. Mesmo assim, “nada teme”. Por isso, não esconde que o filho joga futebol na equipa sub-23 do Portimonense. Porque nada teme, “e porque não vale tudo”, referindo-se à polémica levantada quando em 2016, Alexandre, adolescente, trocou o Clube Atlético e Cultural da Pontinha pelo Sporting. Dele, garante: “Não tenho simpatia clubística. Se tivesse dizia”.

“É empático, facilmente ganha a confiança dos que lidam com ele. Fala pouco e observa muito. Por isso, apanha bem as pessoas. Manda umas bocas certeiras com muito humor que fazem sorrir a plateia”, diz um ex-árbitro internacional. “Tem muito controle. Em vez de explodir, silencia e guarda.”

É teimoso, reconhece, assumindo que pode ser um defeito. É demasiado individualista. “Gosto de trabalhar em equipa, mas por vezes penso ‘não vou estar a chatear-me por causa disto’.”

Profissional a tempo inteiro da arbitragem, “fica irritado e triste quando percebe que certos erros dos árbitros poderiam ser evitados”, diz outro antigo árbitro. “Chega a ficar ruborizado.” Porém, “nunca se exalta”.

Foi árbitro dos 19 aos 35 anos, na 2.ª Divisão Nacional, nove deles no futebol de praia, por sugestão de um amigo da família. Tinha 18 anos, o 12.º ano feito com média de 14 valores, e trabalhava já na área da aviação (dos 18 aos 34 anos na TAP, como empregado administrativo, depois como diretor de logística em outras companhias).

Filho de vila-realenses – o pai era chefe de armazém na Portugal Telecom e a mãe empregada doméstica -, foi uma criança calma e reservada, apaixonada por futebol. Empresário da área da restauração, tem também uma agência imobiliária. Gosta de gadgets. “Tenho um interesse especial pelas novidades informáticas.” De iPhone (tem o 14), de correr “de vez em quando”, de roupa desportiva, das bandas Queen e Guns N’ Roses. De um galão, rotina diária de que não prescinde.

José Manuel Teixeira Fontelas Gomes
Cargo: presidente do Conselho de Arbitragem da Federação Portuguesa de Futebol
Nascimento: 04/01/1977 (46 anos)
Nacionalidade: Portuguesa (Lisboa)