João O’Neill, o engenheiro que produz carne em laboratório

João O’Neill é investigador em Praga

A viver em Praga, João O’Neill integra a equipa da primeira empresa a produzir pet food sem recorrer a crueldade animal.

João O’Neill é um engenheiro químico e bioquímico que investiga a possibilidade de um Mundo onde a carne é produzida em laboratório. E esse sonho está a tornar-se realidade. A viver em Praga, Chéquia, faz parte da equipa da Bene Meats, a primeira empresa certificada no European Feed Materials Register. De células de animais, produzem carne para pet food. Mas as possibilidades são muitas e João está a estudá-las. Tudo isto com apenas 23 anos, depois de ouvir muitas vezes “não”. Foi quando estava prestes a desistir que as portas se abriram.

Sempre interessado em áreas similares, o jovem de Sintra seguiu o curso de Engenharia Química e Bioquímica na Universidade Nova de Lisboa. “Comecei a descobrir mais sobre a carne feita em laboratório e interessou-me esse desafio e nova realidade”, conta. “Decidi que era isso que queria estudar.” Só lhe restava procurar a empresa. Pensou “que seria difícil aceitarem um engenheiro”, ainda a terminar o mestrado, numa área de químicos e biólogos. E foi. Em Portugal, as opções eram poucas e, pelo Mundo nem recebia resposta. “Sabia que não ia ficar bem comigo se não tentasse”. Para a Bene Meats, enviou um email. Nada. Insistiu, golpe de sorte. “Disseram que só pelo entusiasmo e interesse estava aceite.” A viver em Praga, faz parte da equipa desde março.

O cultivo de carne começa com a recolha de células. “Em talhos ou quintas, fazemos uma biopsia, ou seja, tiramos algumas células do músculo ou da gordura”, que depois devem ser separadas. De seguida, “prepara-se o meio de cultura, um líquido dentro de um reator para simular o corpo do animal e os seus processos”. Assim, as células multiplicam-se. “Depois de crescerem, ficamos com uma massa, uma sopa de células”. Depois basta secar e moldar e, na Bene Meats, o resultado é a ração para animais. Para o consumo humano, “há planos para daqui a dois anos estar no mercado”. O que apaixona João O’Neill no processo é a pureza da carne. Além de ser saudável para o meio ambiente, “é feita sem antibióticos e mais controlada”, evitando as doenças que contraímos da carne animal.

A vida em Praga é tudo o que poderia desejar. “Na Bene Meats comecei logo a trabalhar na área que queria.” É um cenário singular. “Aqui valorizam as pessoas e é mais fácil subir na carreira.” A carne cultivada é uma área onde se pode ter êxito. “Temos o potencial e o know how, só nos faltam apoios, sobretudo financeiros.”

Em setembro, João O’Neill voltou a Portugal para a 1.ª Conferência Internacional de Agricultura Celular da CellAgri Portugal. O regresso definitivo não está, porém, apontado para um futuro próximo. “Ofereceram-me contrato, gosto da área e gostam do meu trabalho.” Com um horário flexível e a felicidade de fazer parte da primeira empresa certificada para pet food, Praga continuará a ser a sua casa. Com “saudades da comida, do clima, da família e dos amigos”, vai fazendo visitas. “O objetivo é ter sucesso e levar mudança e inovação a Portugal.”

O impacto do feito de João O’Neill e da sua equipa é grande para as populações, os animais e o Planeta. “Tenho muito orgulho”, afirma. “Estou cá há alguns meses e parece pouco, apesar de já ter feito muito”. O grande plano é continuar, porque o seu trabalho é importante e sente-se feliz em fazê-lo. Não pensa em grandezas, foca-se “no dia a dia, celebrando as pequenas vitórias”.

João O’Neill
Localização:
Praga, Chéquia 50° 4′ 59″ N 14° 25′ 1″ E (GMT +1)
Profissão: investigador
Idade: 23 anos