Alexandra Reis: a negociadora

Alexandra Reis é natural de Leiria

Sem filiação partidária ou experiência política conhecidas, Alexandra Reis pode gabar-se de ter merecido a confiança dos dois ministros rivais, conhecendo-se a exigência de ambos nessa matéria. E de os ter colocado em causa, de uma assentada.

Em maio de 2022, é oradora numa talk dedicada ao tema “Negociar salários e orçamentos”. O “Executiva” – site “de carreira para mulheres”, dirigido essencialmente “a empresárias, gestoras e empreendedoras” -, responsável pelo evento, apresenta a “especialista em negociação” e garante que a “docente em programas para executivos” deixará “ideias muito úteis sobre este tema no “Bootcamp Executiva: 8 atitudes para acelerar a sua carreira”.

Em setembro do mesmo ano, no mesmo site, a já então CEO da Navegação Aérea de Portugal (NAV) revela o segredo de um bom negociador: “Preparação, preparação, preparação”. E deixa “um conselho fundamental” ao processo de entendimento: “Sermos fiéis ao nosso valor, atuar com ética e respeito pelo outro”.

Na mesma entrevista, vai mais longe. Questionada sobre as funções anteriores – administradora da TAP -, diz ter “abraçado o desafio com espírito de missão”. Que o importante “era acudir à empresa”, uma empresa “crítica”. Descreve o desafio – “Implementação de etapas-chave do processo e reestruturação, de redução de custos, suportado por um conjunto de recursos muito escassos”, para concluir: “Espero que nenhuma empresa volte a sentir com aquela intensidade”. Por isso, agradece “o sacrifício e o contributo de várias equipas, todas com um compromisso e dedicação inigualáveis”.

Alexandra Reis, a recém-demitida secretária de Estado do Tesouro, foi um dos rostos da reestruturação da companhia aérea e da execução de um plano que exigiu o corte de 25% da massa salarial da TAP, e levou à saída de cerca de três mil trabalhadores.

Em fevereiro de 2022 – demitiu-se ou foi demitida? – chegou a vez da gestora. E quando chega a vez dela, Reis pede à TAP uma indemnização de 1,4 milhões de euros, vindo a assinar a rescisão por meio milhão, líquido. 336 mil euros dizem respeito a remunerações correspondentes a um ano de trabalho por cumprir, num contrato que fechava a 31 de dezembro de 2024. Acontece, porém, que, apenas quatro meses depois de ter recebido 500 mil euros, a negociadora é escolhida por Fernando Medina, das Finanças, e por Pedro Nuno Santos, das Infraestruturas (que acabou por cair devido à polémica), para presidir à NAV (Navegação Aérea de Portugal). Passagem breve: a convite de Fernando Medina, sobe a secretária de Estado do Tesouro. Para uma passagem brevíssima: menos de um mês e é demitida.

Sem filiação partidária ou experiência política conhecidas, Alexandra Reis pode gabar-se de ter merecido a confiança dos dois ministros rivais, conhecendo-se a exigência de ambos nessa matéria. E de os ter colocado em causa, de uma assentada.

No PS, pergunta-se: “Por onde terá chegado a Medina e a Pedro Nuno Santos?”. Não se sabe. “No partido não tem história”, diz um militante socialista. Que brinca: “Terá vindo a conselho de Lacerda Machado, que é como se sabe um fanático da aviação?”.

Estranho é, dizem, “que antes de um convite para o Governo não haja quem faça, nem que seja uma busca no Google, por saber o mínimo sobre o convidado. São surpresas a mais”.

Nada surpreendidos com tamanha indemnização ficaram Tiago Lopes (Sindicato dos Pilotos da Aviação Civil) e Ricardo Penarroias (Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil). “Nunca reuni com ela, mas sei que é uma negociadora altamente intransigente. Para tirar aos trabalhadores e para dar a ela, como se vê”, atira Tiago Lopes. “Será que recebeu os 500 mil euros a prestações, como aconteceu com todos os trabalhadores indemnizados acima de 50 mil euros? Esta é uma das muitas perguntas para as quais exigimos respostas.”

Com uma pós-graduação e posterior docência na AESE, bussiness scholl conotada com a Universidade de Navarra – por sua vez, associada à Opus Dei -, Alexandra Reis explicou ao “Executiva” o que a levou à Engenharia Tecnológica.

“Aos 18 anos não tinha bem ideia do que queria ser, não fazia ideia do que era o mercado de trabalho, acabei para o fazer uma escolha pragmática. (…) Porque tinha a ideia de que isto das tecnologias tinha futuro.” Tinha.

Alexandra Margarida Vieira Reis
Nascimento:
1974
Nacionalidade: Portuguesa (Leiria)