Viver a Páscoa sendo diabético: palavra-chave é moderação

O equilíbrio entre as tradições da Páscoa e o controlo da glicemia é possível, desde que alguns conselhos e regras sejam seguidos (Foto: Polina Tankilevitch/Pexels)

Ter diabetes não é sinónimo de trancar doces a sete chaves ou cortar rigidamente na alimentação de familiares e amigos convidados para o almoço de Páscoa. Atividades em família ajudam a compensar alguns excessos próprios de épocas festivas.

Os diabéticos podem usufruir das tradições da Páscoa sem peso na consciência ou picos de glicemia. Selecionar as sobremesas que serão confecionadas, fazer atividades em família ou começar a refeição com uma sopa são alguns mecanismos para compensar os excessos comuns dos dias festivos.

Selma Souto, endocrinologista do Centro Hospital e Universitário São João e docente convidada da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, esclarece alguns erros e mitos comuns sobre a vivência da Páscoa de doente diabético. A moderação é a palavra de ordem.

Os diabéticos podem comer doces?

Sim, os doces da Páscoa podem ser aproveitados, mesmo sendo diabético. A endocrinologista aponta que os doentes “podem provar todos os doces da Páscoa, mas devem fazê-lo com moderação”. Pequenas porções, não repetir e provar, idealmente, apenas um a dois doces por refeição são três das regras salientadas. Durante a confeção dos doces, deve ainda “reduzir-se a quantidade de açúcar utilizada”.

É importante ter em conta que, havendo excessos, os mesmos devem estar restritos ao dia festivo, evitando continuar o consumo de doces na semana seguinte.

Os diabéticos devem controlar a ingestão de fruta?

É fundamental controlar a quantidade de fruta ingerida, no entanto, durante a Páscoa, e especificamente “nas refeições principais, pode e deve haver substituição da fruta pelo doce e não ingerir a fruta e o doce simultaneamente”. Selma Souto explica que o método de substituição é outro mecanismo para que os excessos da Páscoa possam ser aproveitados sem danos para a saúde.

Os diabéticos têm de fazer refeições principais diferenciadas dos restantes convidados?

Não há uma restrição destinada aos diabéticos relativamente à refeição principal. No entanto, há cuidados que devem ser tidos em conta, como “privilegiar produtos frescos na preparação da refeição, consumir sopa de legumes mesmo em dias de festa e começar a refeição com a sopa”, enumera a médica do Centro Hospital e Universitário São João. O prato da refeição principal deve ser preenchido “metade com legumes, um quarto com proteínas e o restante com hidratos de carbono”. Outra dica de Selma Souto é “reduzir a quantidade de hidratos de carbono para compensar a ingestão, mais tarde, durante a sobremesa”.

O álcool contribui para o descontrolo da glicemia?

Sim, o consumo de bebidas alcoólicas pode contribuir para o aumento da glicose no sangue. Segundo a especialista, “a melhor opção é água e o ideal é não consumir refrigerantes”.

Selma Souto é endocrinologista e dá alguns conselhos para que a Páscoa seja usufruída por todos sem frustrações
(Foto: DR)

O que pode ser feito para prevenir ou compensar excessos alimentares?

Selma Souto aconselha que, “para compensar o excesso energético associado à ingestão de doces, a pessoa diabética deve aumentar o gasto de energia”. Fazer uma caminhada de pelo menos 30 minutos, idealmente a seguir à refeição, é a regra de ouro. A médica lembra que “sair de casa ou dar um passeio em família ajuda também a fugir à tentação de continuar a ingerir doces o resto do dia”, além de ser uma forma de aproveitar o dia junto de quem mais se gosta.

Relativamente à alimentação, “o ideal é não preparar doces numa quantidade superior ao que é suposto, para não haver sobras, evitando a tentação de continuar a ingerir doces nos dias seguintes”. A endocrinologista sugere que os doces e comidas que sobrarem sejam oferecidos “aos convidados e, dessa forma, o que ficou a mais não está no frigorífico ou na cozinha a tentar a pessoa com diabetes a petiscar”.

No caso das pessoas com diabetes tipo 1, “é necessário fazer ajustes no esquema de insulina, nomeadamente a insulina rápida”. Estes doentes devem informar-se junto do médico sobre quais os ajustes que devem ser feitos.

Quais as consequências para um diabético quando ocorrem excessos alimentares?

Para pessoas com diabetes, excessos alimentares podem ser sinónimo de dificuldade no controlo da glicemia, ou seja, do açúcar no sangue. “Pode também contribuir para algum aumento de peso”, acrescenta Selma Souto, sendo preocupante principalmente na diabetes tipo 2, na qual, “muitas vezes, já há um problema de obesidade, que estará a ser agravado durante os dias de excessos”.

A insulina é o único tratamento para a diabetes?

A médica do Centro Hospitalar e Universitário São João sinaliza dois mitos relativamente à terapêutica injetável para a diabetes. “Muitas pessoas associam o início desta terapêutica a formas mais graves da doença. A verdade é que utilizamos tratamentos injetáveis não insulínicos (sem ser insulina) cada vez mais cedo.” Estes tratamentos apresentam vantagens “na melhoria do controlo da glicemia, na redução do peso e na prevenção de eventos cardiovasculares”.

Outro mito é a dor associada à terapêutica injetável. Selma Souto esclarece que “esta medicação não deve ser utilizada logo após ser retirada do frigorífico”, devendo ser administrada à temperatura ambiente. Se assim for, “a administração não é dolorosa, nem é suposto haver desconforto”.