Roberta Metsola: uma mulher do Mediterrâneo

Roberta Metsola é presidente do Parlamento Europeu

A natureza sulista é temperada pelo casamento. A nova presidente do Parlamento Europeu é casada com o finlandês Ukko Metsola. “É uma mulher de pontes até na vida pessoal, ligando culturas radicalmente diferentes. O Norte e o Sul, relação da qual resultaram quatro filhos”, diz o eurodeputado Paulo Rangel.

“Forte e carismática, na tradição das mães mediterrânicas, e também muito livre e com uma visão moderna das questões europeias.” Paulo Rangel conhece bem Roberta Metsola, a presidente do Parlamento Europeu (PE) eleita a 18 de janeiro, dia em que completou 43 anos. São amigos próximos. “Muito, mesmo. Julgo até ter sido a primeira pessoa a sugerir-lhe que se candidatasse”, frisa o eurodeputado, que encontra na “afabilidade, simpatia e abertura” trunfos da maltesa nascida em St. Julian’s, antiga comunidade de pescadores, com agitada vida noturna dedicada aos milhares de viajantes e estudantes que recebe todos os anos.

A ligação de Metsola ao Sul é reforçada no site do Partido Popular Europeu (PPE). Assim como o europeísmo da líder do Parlamento, manifestado precocemente: foi uma das primeiras estudantes maltesas a participar no programa Erasmus, estudou no Colégio de Europa (Bruges), cantera da elite comunitária, concorreu e foi eleita secretária-geral dos Estudantes Democratas Europeus, grupo filiado do PPE. Mais. Especializou-se em Direito e Políticas Europeias, empenhou-se a fundo no referendo sobre a adesão de Malta à União Europeia (UE) e, simbolicamente, formou-se no ano (2003) em que a ilha decidiu ingressar na UE. Contrapondo desde sempre moderação a extremismo, o sonho de chegar ao PE custou-lhe dez anos de batalhas eleitorais. Duas derrotas depois, foi finalmente eleita (2013), tornando-se um dos seis deputados de Malta.

A natureza mediterrânica é temperada pelo casamento com o finlandês Ukko Metsola, que conheceu eram ambos estudantes. “É uma mulher de pontes até na vida pessoal, ligando culturas radicalmente diferentes. O Norte e o Sul, relação da qual resultaram quatro filhos”, diz Rangel.

O assassinato da jornalista Daphne Caruana Galizia relevou a deputada no PE. Metsola foi a cara da luta pela liberdade de imprensa e contra a corrupção, participando em numerosos eventos evocativos da coragem da jornalista. Numa visita oficial a Malta, recusou cumprimentar o primeiro-ministro, Joseph Muscat, que revelações sobre o crime levariam pouco depois à demissão. O deputado conservador Stelios Kympouropoulos, da Grécia, descreve-a “ousada”. O suficiente “para ser o rosto de um parlamento extrovertido e forte”, instituição que se esforça por estar em pé igualdade com o Conselho Europeu e a Comissão Europeia. Rangel define-a “uma mulher dos valores europeus”. Acrescenta: “Tem um perfil muito empático, que traduz numa ação política consequente. E sendo de consensos é também muito convicta e carismática”. Porém, não há unanimidade. São várias as vozes feministas que, invocando o legado de Simone Veil – a primeira mulher a ocupar a cadeira -, lamentam as posições antiaborto da atual presidente, nascida na catolicíssima Malta.

“Numa altura em que estamos a assistir a tantos retrocessos nas questões sexuais e da reprodução, com particular relevo para a Polónia, a eleição de Roberta é um sinal frágil do Parlamento”, considera Marisa Matias. “E um sinal terrível para os direitos das mulheres em toda a Europa”, declarou Manon Aubry, deputada da Esquerda francesa no PE. “Surpreende-me que os socialistas tenham acordado esta situação”, remata a portuguesa. Ao não apresentarem um candidato, os socialistas europeus ajudaram a abrir caminho à conservadora maltesa, a mais jovem de todos os presidentes do PE, a terceira mulher a ocupar o cargo e a primeira representante de Malta a chegar ao topo institucional europeu.

Roberta Metsola Tedesco Triccas
Cargo:
presidente do Parlamento Europeu
Nascimento: 18/01/1979 (43 anos)
Nacionalidade: Maltesa