É um desporto atrativo, social, jogado a quatro, em duplas, a oito mãos. Mas atenção aos problemas, ou melhor, às lesões traumáticas e às lesões de sobrecarga. Coordenação e equilíbrio são fundamentais para evitar chatices ao corpo.
A definição, primeiro. Padel é um jogo disputado entre duas duplas com raquetes e uma bola semelhante à do ténis, embora com variação na pressão interior. O campo tem 20 metros de comprimento e 10 de largura com paredes à volta. É um desporto bastante procurado, que não demora muito tempo a aprender, que potencia o convívio além da competição. Mas, atenção, as lesões do punho e da mão são bastante frequentes nos desportos de raquete. E o Padel não é exceção.
Miguel Botton, médico, especialista em Ortopedia na Unidade de Mão e Punho do Hospital CUF Descobertas, em Lisboa, fala do assunto e suas particularidades. “Intuitivamente, é fácil separar dois tipos de lesões no Padel: primeiro, as lesões traumáticas que ocorrem num evento súbito, como uma queda quando se apoia a mão na parede/chão em que existe um contacto direto do punho ou um movimento brusco do mesmo que condiciona a incapacidade instantaneamente”, refere. “Em segundo lugar, as lesões de sobrecarga que surgem de forma mais insidiosa, após o jogo ou no dia seguinte”, acrescenta.
Nas traumáticas, estão as fraturas do rádio e dos ossos do carpo (mais frequentemente escafoide e piramidal), cujo tratamento pode passar pela imobilização (tala ou gesso) ou pela cirurgia. “As lesões instáveis e/ou descoaptadas têm habitualmente indicação cirúrgica em doentes ativos e que querem manter o seu nível de atividade.”
Estima-se que, neste momento, haja cerca de 200 mil praticantes de Padel no nosso país
Não há, contudo, uma forma clara de prevenir este tipo de lesões. Segundo Miguel Botton, o cuidado, a propriocepção (a capacidade de reconhecer a localização espacial do corpo), a coordenação e o equilíbrio são essenciais. São, aliás, sublinha “o melhor treino possível para (eventualmente) as evitar.” “Na faixa etária acima dos 50 anos e em mulheres pósmenopáusicas, é recomendável identificar os fatores de risco para a osteoporose”, avisa. Até porque esta doença representa um risco aumentado de fratura por deterioração da microarquitetura do osso, segundo a Sociedade Portuguesa de Reumatologia.
No grupo das lesões de sobrecarga estão as tendinopatias. “Para este tipo de lesão são vários os fatores que podem condicionar a dor, nomeadamente a forma como se pega a raquete. A pega continental condiciona mais dor cubital ao contrário da pega martelo que gera mais sobrecarga do lado radial (extensores do punho e do polegar)”, diz o médico. “É verdade que no Padel a pega continental é mais utilizada e, por isso, é mais frequente vermos doentes com dor sobre o cúbito distal.”
Há também o peso da raquete que não é apenas um pormenor. “As raquetes mais pesadas agravam a sobrecarga em cada pancada e algumas delas pesam mais de 350 gramas”, adianta Miguel Botton. O médico tem mais coisas a dizer. A curva de aprendizagem deste desporto é relativamente rápida, mas a bola deve atingir o centro da raquete para absorver mais energia e “proteger” o punho. Raquetes que não têm o peso distribuído de forma homogénea podem contribuir para uma maior instabilidade do punho. É natural que na fase inicial, haja mais tendência para a lesão.
Raquetes que não têm o peso distribuído de forma homogénea podem contribuir para uma maior instabilidade do punho
“A pancada de esquerda com duas mãos é um fator de risco para dor na mão esquerda, neste caso se a mão dominante for a direita. A supinação exagerada é um dos fatores de risco para algumas das lesões estruturais do punho e a pancada de esquerda é mais rara no Padel, sendo habitualmente utilizada por quem já jogava previamente ténis.”
Há outros detalhes como a largura do grip ou “overgrip” colocado na raquete que pode ser prejudicial se a mão é pequena e caso seja necessário fazer mais força de pega para segurar na raquete. “Os tendões flexores dos dedos podem causar dor na palma da mão.”
O tratamento deste tipo de lesões é quase exclusivamente conservador. Há as ajudas técnicas, isto é, aulas com professores certificados, que permitem corrigir alguns erros ou simplesmente fazer algumas alterações individuais suficientes para resolver o problema. Por outro lado, o especialista realça que “os alongamentos e exercícios de elasticidade são importantes para ajustar a tensão muscular e tendinosa, principalmente em atletas não habituados a praticar desporto.”
E se nada funcionar? Se estas medidas não forem eficazes? Pode então ser necessário recorrer a anti-inflamatórios, repouso e tratamentos de medicina física e reabilitação. O objetivo é sempre, observa Miguel Botton, “regressar à prática desportiva.” Porque, como se sabe, o desporto faz bem à saúde.