Mykhailo Fedorov: nas redes do ministro

Mykhailo Fedorov é vice-primeiro-ministro da Ucrânia e ministro da Transformação Digital

Fez caminho como empresário ligado às tecnologias e é o rosto da revolução digital da Ucrânia. Foi o responsável pela campanha que ajudou a eleger Zelensky, competência confirmada na crise pandémica. A pressão agressiva e constante nas redes sociais, antecipando-se à Rússia na guerra de informação, prova que estava preparado.

Em local não revelado, executa e lidera uma campanha global. Mas ainda que seja no subsolo, em abrigos e porões, sempre que os alarmes anunciam ataques de Putin, o ministro mais jovem da Ucrânia apenas precisa de acesso ao Twitter. De uma conta que acumula seguidores dia a dia, e à medida que mísseis russos devastam, Fedorov desafia as poderosas high-tech a punirem o invasor. A desconectarem a Rússia do resto do Mundo, campanha de pressão sem precedentes, agressiva, sobre uma indústria que sempre evitou ceder a interesses que não os próprios.

Conseguiu. A Google suspendeu a venda de anúncios, a Alphabet expulsou a RT e a Sputnik do Google Play. A Microsoft suspendeu novas vendas no país. A Netflix, a PayPal, a Visa e a Mastercard suspenderam os serviços. Facebook e YouTube reprimiram os canais estatais russos, e a Google, para proteção de cidadãos ucranianos, desativou alguns recursos no Google Maps.

“A sua capacidade de galvanizar a opinião internacional nas empresas de tecnologia é extraordinária”, disse ao “The Washington Post” Emerson Brooking, membro sénior do Atlantic Council, que estuda a utilização das redes sociais na guerra.

O ministro da Transformação Digital, de 31 anos, domina a arte. Conseguiu convencer o controverso Elon Musk, o mesmo que meses antes da invasão havia declinado uma reunião conjunta. “@elonmusk, enquanto você tenta colonizar Marte – a Rússia tenta ocupar a Ucrânia!”, tuitou o ministro ucraniano, pedindo ao CEO da Tesla que enviasse Internet via satélites Starlink. Um dia depois: “Starlink -here. Thanks”.

No verão de 2021, em fotografia que publicou no Facebook, Fedorov surge de braço dado com o CEO da Apple, numa visita a Palo Alto, Califórnia, EUA. “O gestor mais eficiente do Mundo”, legendou, referindo-se a Tim Cook. Enviou-lhe agora esta breve mensagem: “Block App Store na Rússia”. Pouco depois, a Apple suspendia as vendas de produtos na Rússia.

Fez caminho como empresário ligado às tecnologias, é o rosto da revolução digital do país, num projeto a que chamou “O Estado num smartphone”. Antes da invasão, liderava um ministério de 250 pessoas. Apesar da guerra, cerca de metade do pessoal continua ativo, garante ao “The Whashington Post” o seu vice-ministro, Alex Bornyakov. Prioridade dos resistentes: proteger a infraestrutura contra ataques cibernéticos, garantir o bom funcionamento dos serviços digitais do Governo e manter a pressão sobre a indústria tecnológica.

Nascido no Oblast de Zaporizhzhia, palco do recente incêndio na maior central nuclear da Europa, provocado por um ataque de tropas russas, Fedorov iniciou a participação política na universidade – em 2012, durante um festival estudantil local, foi eleito o “autarca estudantil de Zaporizhzhia”. Após a eleição presidencial ucraniana de 2019, tornou-se conselheiro de Zelensky. Não tivesse sido ele o responsável pela campanha que levou o amigo ao poder. “Gizou a campanha digital de Zelensky. E foi tão bem-sucedida que o tornou presidente”, diz Denys Gurak, empresário ucraniano a viver nos EUA. Competência confirmada na crise pandémica, com a agilização de ferramentas online para passaportes de vacinas contra a covid.

A pressão agressiva e constante nas redes sociais de Fedorov, antecipando-se à Rússia na guerra de informação, torna-o figura fundamental desta crise violenta. “A maneira como ele usa o Twitter, o uso que ele, os políticos e os ministérios ucranianos estão a dar a essas plataformas prova que entenderam desde o início que este seria, em muito, um conflito de informações”, refere ainda Emerson Brooking, da Atlantic Council Brooking. “Pode dizer-se que eles estavam prontos.” A conta do Twitter de Fedorov, a ganhar milhares e milhares de seguidores desde os primeiros dias da guerra, é prova disso mesmo.

Mykhailo Albertovych Fedorov
Cargo:
vice-primeiro-ministro da Ucrânia e ministro da Transformação Digital
Nascimento: 21/01/1991 (31 anos)
Nacionalidade: Ucraniana