Mais do que café, uma experiência

O café é cultivado em altitude na região intertropical

O consumo de café em Portugal ainda é feito numa lógica utilitária, mas cresce o interesse dos verdadeiros apreciadores. As famílias, as características, as misturas e os conselhos para degustar esta bebida.

São mais de 120 as espécies de café existentes no Mundo, mas entre tanta variedade apenas duas são comercializadas e bebíveis: arábica e robusta. A primeira é caracterizada, segundo a formadora e consultora Sandra Azevedo, pela acidez com toques doces e pela sensação fluida, “quase um chá”. Já o café robusta, com mais cafeína, “é amargo e apresenta mais corpo”. As diferentes famílias fazem-se a sentir também no aroma. O arábica tem notas de flores, frutas, chocolate e caramelo. Já o robusta apresenta um perfil mais próximo da madeira, frutos secos ou cereais.

A fundadora da Academia do Café, escola de formação de baristas em Lisboa, realça que a maioria das vendas assenta numa mistura, um “blend”, como é chamado. “Para se completarem nas suas características”, todas as tipologias de café que não sejam de origem, ou seja, 100% arábica ou 100% robusta, vêm de uma mistura das duas.

Apesar de “vir dentro do grão”, a qualidade do café é fácil de estragar, de acordo com David Coelho. O tipo de água utilizada, a temperatura, a receita, a moagem e a torra são algumas das variadas características da produção do café que impactam o produto final, aponta o barista e responsável pela área de cafetaria da 7g, em Gaia. E, claro, também o método de extração: expresso, por filtro, em cafeteira ao fogão. É da combinação de todos os fatores, desde a origem do grão às especificidades da produção, que resulta no sabor, no corpo e qualidade do café que bebemos. Por isso, e havendo milhares de famílias de “blend”, não é possível associar o produto de uma certa origem a um determinado sabor final.

O café é cultivado em altitude na região intertropical. O Brasil é o maior produtor mundial, com destaque para o robusta, seguindo-se o Vietname, com produção de ambas as famílias, e a Colômbia, com maior foco no arábica.

Em Portugal, há a ideia de que “somos grandes consumidores, mas, na verdade, temos um consumo pequeno, comparado com outros países da Europa”, assinala Sandra Azevedo, lembrando que que cada português ingere, em média, quatro quilogramas de café por ano contra, por exemplo, os 12 da Finlândia, o recordista europeu.

É também no conhecimento e degustação do café que Sandra Azevedo considera haver um certo atraso em Portugal, dado que só nos últimos anos começaram a aparecer cafetarias de especialidade, estabelecimentos com serviços e produtos de aprofundado conhecimento onde é possível provar uma grande variedade de bebidas de café. A formadora resume o consumo português como tendo um cariz de conveniência, “em função da marca, do preço e do gosto pessoal”.

David Coelho compara a crescente procura de café de especialidade com o que ocorreu há uns anos com o universo vinícola. “O vinho antigamente também não era apreciado na sua totalidade e houve uma mudança. É o que se está a passar com o café”, afirma o profissional da 7g.

São tantas as características a conhecer num café e os fatores que influenciam o resultado final que o melhor é mesmo experimentar vários para identificar o preferido. O barista, tricampeão nacional, acredita que a primeira experiência deve passar pela visita de um café de especialidade, com uma prova de “coffee tasting”, como oferece a 7g, onde é possível saborear quatro fases da bebida, desde o chá feito com cascas da cereja do café até ao “capuccino”.

Caffier | Blend forte (robusta) | 7,90 euros
Bodum coffee | Café de origem Colômbia | 18,90 euros
De’Longhi | 100% arábica | 7,40 euros
Incapto coffee | Café de origem Brasil | 24,45 euros
Italcaffè | Blend “Dolce crema” | 15,49 euros
Italcaffè | Blend “Dolce crema” | 15,49 euros