Gustavo Petro. Aureliano, o guerrilheiro

Gustavo Petro é presidente da Colômbia

Os colombianos conhecem-no. Foi vereador da cidade de Zipaquirá, guerrilheiro, representante da autarquia, adido da embaixada colombiana na Bélgica, presidente da Câmara de Bogotá e senador da Colômbia por dois períodos. O passado nas M-19 é a principal arma de arremesso de opositores e inimigos.

Guerrilheiro na clandestinidade, foi “Aureliano”, homenagem à personagem quixotesca de “Cem anos de solidão”, herói literário de Gabriel García Marques “derrotado em todas as batalhas em que se envolveu”.

Em comum com o prémio Nobel da Literatura, tem a escola La Salle, em Zipaquirá, onde adolescente fundou o jornal a que apropriadamente chamou “Carta al Pueblo”. Pouco depois, aderiu às brigadas M-19, guerrilha urbana de origem socialista, onde militou cinco anos.

Chama-se Gustavo Francisco em homenagem ao pai e ao avô, fazendeiros de origem italiana, tem 62 anos, lidera o partido Pacto Histórico e é o recém-eleito presidente da Colômbia. Onze milhões de votos para o primeiro presidente de Esquerda na história do país, escolhido depois de duas tentativas frustradas (2010 e 2018). “Esta vitória é para Deus e para o povo e a sua história. Hoje é o dia das ruas e praças”, escreveu no Twitter.

Os colombianos conhecem-no: foi vereador da cidade de Zipaquirá, guerrilheiro, representante da autarquia, adido da embaixada colombiana na Bélgica, presidente da Câmara de Bogotá e senador da Colômbia por dois períodos.

O passado nas M-19 é a principal arma de arremesso de opositores e inimigos. Entre atos simbólicos – o roubo de armas de uma fortaleza considerada inexpugnável e o sequestro da espada de Bolívar – estão ações tão violentas quanto a tomada do Palácio da Justiça, em 1985. Durante dois dias, os guerrilheiros mantiveram reféns 350 pessoas, incluindo magistrados, funcionários judiciais e visitantes. No resgate, 98 morreram e 11 foram declaradas desaparecidas.

Petro afirma que não participou nessa ação. “Quando os eventos da violenta tomada do Palácio da Justiça e a ação ainda maior, muito mais violenta do Estado, aconteceram, eu estava sendo torturado numa cavalaria do Exército na cidade de Bogotá”, disse em recente entrevista.

Chamam-lhe guerrilheiro. Prefere a palavra “revolucionário”. Chamam-lhe comunista. Prefere dizer-se da “esquerda progressista”. Chamam-lhe populista autoritário. Ele diz-se “ao lado do povo”. A direita extremista garante que, com “este amigo confesso de Hugo Chávez, a Colômbia terá o destino da Venezuela”.

A imprensa colombiana descreve-o metódico. Estoico, orgulhoso, autossuficiente, vaidoso. Católico simpatizante da teologia da libertação. Congressista reconhecido, sobretudo na oposição frontal ao governo de Álvaro Uribe – têm-lhe sido vaticinadas várias mortes políticas. De todas renasceu, da última para a liderança do país.

Nasceu em Ciénaga de Oro (“Pântano de Ouro” em português), região de Córdoba, banhada pelo Mar do Caribe. Nos anos 1970, a família, de classe média, migrou para a cidade de Zipaquirá, à procura de melhores oportunidades. Foi aí que Petro cresceu, filho mais velho de três.

“Petro gera paixões viscerais: há pessoas que o idolatram até a morte, que o adoram, e há pessoas que o odeiam com todas as suas entranhas”, afirma um analista do país. Entre os últimos contam-se os setores mais conservadores e tradicionais, encabeçados pelas igrejas evangélicas. O novo presidente “vai trazer homossexualidade, vai trazer o comunismo, vai trazer Satanás”, dizem.

Num país altamente tradicional e de Direita, quem o elegeu espera agora que cumpra as promessas eleitorais: aumentar impostos sobre as quatro mil maiores fortunas do país e sobre propriedades improdutivas com mais de 500 hectares, pagar por educação superior para as forças de segurança públicas, garantir 50% de vagas para mulheres nos cargos públicos, estimular fontes renováveis de energia, “girar a economia em torno da vida”, apostar na riqueza natural e na proteção ambiental, “aprofundar a democracia”, e fazer uma estrutura económica “baseada na produção e não na extração”.

Desígnios difíceis, num país dividido entre o amor e o ódio ao presidente, uma batalha que Petro se propõe ganhar. Resta saber se conseguirá fugir a Aureliano Buendía, herói de causas perdidas.

Gustavo Francisco Petro Urrego
Cargo:
presidente da Colômbia
Nascimento: 19/04/1960 (62 anos)
Nacionalidade: Colombiana