Despesas e impostos. Guia para planear o ano

Quem vive mês a mês, sem antecipar o que vem à frente, pode ver a gestão familiar complicar-se. Organizar receitas, gastos e prever os impostos não é difícil e até ajuda a poupar e a aliviar meses de razia financeira. Dicas, apps, simuladores, calculadoras, tudo para uma boa gestão em 2022.

Organizar o orçamento pessoal e familiar, antecipando também os impostos, pode ser uma tarefa dura se não tivermos noção clara dos nossos gastos e receitas mensais. Mas é possível se nos habituarmos a escrever tudo, tudo mesmo, até as despesas esporádicas para percebermos onde podemos fazer eventuais poupanças. É esse o segredo, segundo os especialistas, para deixar de viver mês a mês e estar prevenido.

Comecemos pelo princípio, por fazer um orçamento, ou seja, identificar detalhadamente os rendimentos líquidos e os gastos. Neste capítulo, as principais despesas a ter em conta, segundo Ernesto Pinto, fiscalista da Deco Proteste, organização de defesa do consumidor, “são as que acontecem regularmente”: a prestação da casa ou renda, alimentação, combustíveis ou títulos de transporte, água, eletricidade, gás e telecomunicações, créditos pessoais. Mas também se devem acautelar as que não acontecem todos os meses, desde impostos, seguros, manutenção da casa e do carro, férias, idas ao médico. O desafio é garantir que o orçamento mensal não só dá para fazer face aos gastos do mês como também permite colocar algum montante de parte para os não periódicos.

Mas há estratégias para isso? De acordo com Sara Antunes, diretora de comunicação e conteúdos do Doutor Finanças, há e “uma delas é quando elaboramos o orçamento identificar os meses do ano em que entram mais despesas e mais rendimentos”. Muitas pessoas recebem reembolsos do IRS e, nestes casos, há um mês com um rendimento “extra”, assim como acontece com os subsídios de férias e Natal. “O mesmo serve para as despesas. Isto é, identificar bem em que meses sai aquele dinheiro para podermos antecipar necessidades”, explica a responsável da empresa especializada em finanças pessoais e familiares. É o caso do IUC (Imposto Único de Circulação) ou do IMI (Imposto Municipal sobre Imóveis), pagos em meses fixos.

Feito o orçamento, para conseguir uma gestão equilibrada, a chave é criar uma poupança, assumindo-a como uma despesa fixa mensal, através de uma transferência que deve ser automática e que não nos obriga a pensar sobre isso, para uma conta em que não mexemos. Isso e tentar reduzir gastos diários “de que nem nos apercebemos” – e que vamos descobrir ao fazer um orçamento -, procurar alternativas mais em conta na alimentação ou renegociar periodicamente com os fornecedores de serviços, “seja nos contratos de eletricidade, no crédito ou nos seguros”.

Do IMI ao IRS: os que pesam mais na carteira?

No que toca aos impostos, há vários a pesar na carteira. O IRS, o IMI para quem tem casa própria (o Fisco lembra, se as notificações estiverem ativadas no Portal das Finanças) e o IUC para quem possui carro são os com mais impacto no orçamento. Mas é possível torná-los mais “leves”, segundo Sara Antunes, do Doutor Finanças. Como? Precisamente anotando o mês em que ocorrem e poupar para que chegado o momento “o pagamento seja menos doloroso”. “Sabemos que o primeiro pagamento do IMI ocorre em maio. E que o IUC é pago no mês da matrícula do veículo. Os impostos têm sempre uma data predefinida.”

E mesmo no IRS, havendo retenção na fonte, pouco há a fazer, mas os contribuintes podem sempre fazer simulações perante os cenários possíveis, diz o fiscalista da Deco Proteste. “Por exemplo, se devem entregar conjuntamente ou em separado, ou se há dependentes maiores que devam ser incluídos ou não nas declarações dos pais”, o que pode “levar à poupança de centenas de euros”. Para quem obteve rendimentos que não estiveram sujeitos a retenção na fonte, por trabalho independente, rendas ou mais-valias, Ernesto Pinto dá uma dica: “Colocar de parte 25% dos rendimentos obtidos pois haverá certamente mais imposto a pagar depois de se entregar a declaração de IRS”.

Ter um calendário dos impostos logo no arranque do ano é um bom truque, até para evitar esquecimentos e surpresas. Por exemplo, o responsável da Deco Proteste avisa que “é de extrema importância validar as despesas no portal do e-fatura até ao dia 25 de fevereiro. Há despesas que se não forem validadas a tempo não vão ser deduzidas na declaração de IRS”.

Apps e ferramentas que ajudam

Se nos perdemos no meio dos papéis de faturas e mais faturas e não sabemos quanto gastamos e em quê, não falta oferta ao nível de apps, calculadoras ou outras ferramentas informáticas que ajudam a manter a vida financeira e fiscal controlada ao cêntimo. É o caso do Boonzi, uma aplicação portuguesa que ajuda a gerir o dinheiro e a planear o futuro. Permite juntar todas as contas bancárias e fazer um resumo a tudo o que se gasta, ajudando a perceber para onde vai o dinheiro. Dá para ver quanto se gasta em cada categoria, desde restaurantes, cinema, supermercados. E permite fazer orçamentos familiares.

Mas há outras. A My Wallet (iOS), Toshl Finance (iOS e Android), Money Wallet (iOS) ou Spendroid – Finance Manager (Android) e tantas mais. Nem todas estão disponíveis em português e poucas são totalmente gratuitas. Ainda assim, para quem não quer investir, há bancos que já disponibilizam serviços de “Gestor de Finanças” ou “Orçamento Familiar” nas suas aplicações e sites. E o Excel ou a velhinha folha de papel são sempre opção.

Olhando só para os impostos, há alternativas. Podemos recorrer aos simuladores de IMI e IMT no site da Deco Proteste, que ainda lança todos os anos um Guia Fiscal – o de 2022 fica disponível no final deste mês -, para ajudar no preenchimento da declaração de IRS, bem como no cumprimento de outros impostos como o IMI, o IMT, o IUC, o ISV e o Imposto de Selo. Além disso, a Deco Proteste criou a ferramenta paguemenosimi.pt que permite aos proprietários de imóveis saber se estão a pagar impostos a mais ou não, e o que devem fazer para poupar.

No site do Doutor Finanças também não faltam boas ferramentas. Um simulador de salário ou de pensão líquida 2022, simuladores de IMI, de IMT (no caso de comprar casa), e até um de Mais-Valias de imóveis se tiver vendido alguma casa e quiser saber qual será o impacto na declaração anual de IRS. Ainda disponibiliza calculadoras que ajudam a controlar as contas e a descobrir onde poupar, como o “Simulador de taxa de esforço” e a “Calculadora de despesas” que mais não é do que uma folha de Excel que inclui até espaço para cada imposto. No Doutor Finanças, pode-se ainda recorrer à “Calculadora de prestação de crédito habitação” ou a uma comparadora que permite perceber se é vantajoso transferir o crédito à habitação para outros bancos que apresentem melhores condições.

CALENDÁRIO IMPOSTOS

IRS 2022
Até 25 de fevereiro: validar despesas no e-fatura
De 15 a 31 de março: reclamar despesas no e-fatura
De 1 de abril a 30 de junho: entrega da declaração de IRS
Até 31 de julho: limite para receber reembolso
Até 31 de agosto: limite para pagar IRS

CASA
IMI
O IMI pode ser pago em até três prestações, consoante o seu valor. Até cem euros, é pago na totalidade em maio. Se for superior a cem euros e inferior a 500 euros, é dividido em duas prestações, a pagar em maio e novembro. A partir de 500 euros, o pagamento é efetuado em três prestações: maio, agosto e novembro.

CARRO
IUC
A posse de um veículo, mesmo que não circule, obriga ao pagamento do Imposto Único de Circulação (IUC), exceto para os carros exclusivamente elétricos. O IUC tem de ser pago todos os anos, até ao fim do mês da matrícula indicada no documento único do veículo.