Carros com olhos e cérebro? Já não falta assim tanto

António Pontes, professor da Universidade do Minho, junto a um protótipo de um veículo em que foram testadas várias tecnologias

São automóveis cada vez mais inteligentes, com inovações que dão assistência ao condutor e que até têm capacidade de reação. A tecnologia foi criada pelas mãos da Bosch e da Universidade do Minho.

O futuro da condução também se está a desenhar em Portugal e já há inovações criadas cá a ganhar forma pelo Mundo. No fundo, o objetivo é ter carros cada vez mais inteligentes, com olhos, cérebro, capacidade de reação, um computador com rodas muito sofisticado. A Universidade do Minho e a Bosch, no âmbito da parceria de investigação criada em 2013, lançaram os resultados dos programas Easy Ride e Sensible Car e resta agora aplicar ao mercado. A questão é: que tecnologias terão os carros do futuro?

Comecemos pelo exterior. “Desenvolvemos um sistema de sensores que faz um rastreio à volta do carro, um varrimento de tudo o que se passa, e permite que o computador de bordo dê informação ao condutor quando deteta peões, obstáculos”, explica António Pontes, professor de Engenharia de Polímeros e coordenador de projetos I&D na parceria Bosch-Universidade do Minho. A tecnologia não só prevê alertar o condutor, como também poderá fazer o próprio carro reagir, ter uma ação ativa, travar automaticamente caso esteja a passar um peão ou um animal na estrada. Chamam-lhe sistema LiDAR, que é no fundo os olhos e cérebro do carro. Já há sistemas semelhantes, nomeadamente na Tesla, “mas com câmaras e radares, não com sensores de laser”.

O melhor é que estas soluções estão mesmo em vias de serem implementadas em gigantes automóveis, sobretudo alemães. E, mais para a frente, segundo António Pontes, o objetivo é também produzir sensores e câmaras que podem avisar o condutor quando o carro está estacionado e sofreu uma amolgadela. Não é só. Entre as tecnologias apresentadas – resultado do trabalho de mais de 750 profissionais do consórcio academia-indústria – também entra o “V2X”, que é como quem diz a comunicação entre veículos, entre veículo e uma infraestrutura (como um semáforo ou uma autoestrada) ou entre veículo e pessoas. “Por exemplo, num cruzamento, o carro recebe sinais de um semáforo a dizer que outro carro se está a aproximar” e até indica qual é a ordem de passagem. “Está tudo em fase muito inicial. Teríamos que ter os carros todos com o mesmo sistema para comunicar entre si e as próprias infraestruturas equipadas.” Certo é que a tecnologia da Bosch está criada, falta é dar o passo maior. Provavelmente, adianta, vai começar por ser aplicada em camiões e autoestradas.

“Estamos a evoluir cada vez mais para carros autónomos, ou pelo menos com sistemas que dão assistência ao condutor. É o futuro da mobilidade, carros inteligentes e com capacidade de reação”, comenta António Pontes. As inovações desenvolvidas pela Bosch e pela Universidade do Minho ainda antecipam o crescimento dos serviços de carros partilhados – como a Uber – com a criação de câmaras e microfones para o interior dos veículos que permitem detetar violência, objetos esquecidos, danos.

No meio de tanto, as motas não ficam de fora e entram no mundo das inovações, com avisos ao condutor de situações de perigo através de vibrações no blusão ou de imagens projetadas na viseira do capacete. Foram investidos cerca de 150 milhões de euros nos projetos, que geraram mais de 70 patentes, com apoio governamental.