BrincOdeira. Tudo num brinco

Conjunto de brincos feitos por Rita Colaço

Rita Colaço dá nova vida a cápsulas de café, revistas, retalhos, caixas de cereais, búzios. Constrói brincos à mão, sem pressa. É a sua BrincOdeira, nascida em pleno confinamento.

No liceu, metia as mãos na massa fimo, moldava-a como queria, para fazer brincos com uma amiga – e havia quem os quisesse comprar. O gosto pelos adornos das orelhas não passou com os anos. Com o confinamento, Rita Colaço, jornalista da Antena 1, habituada a andar na rua a contar histórias, ficou em casa e começou a reparar nos seus brincos, a querer dar-lhes um jeitinho. Pegou no alicate, viu vídeos para abrir e dar as devidas voltas nas argolas, e uma coisa puxa outra. A BrincOdeira nasce deste passatempo que a ajuda a descomprimir e a gastar energias. “Foi uma terapia para tentar ultrapassar os dias mais cinzentos”, conta. Foi e continua a ser.

Cápsulas de café, caixas de cereais dos filhos, retalhos de tecidos das viagens como repórter e como voluntária, panos oferecidos por familiares e amigos, papéis de jornais e revistas, pequenos búzios e conchas, cascas de sementes de pau de loureiro, o embrulho dourado dos Ferrero Rocher, pedrinhas do Tejo e do Zêzere. “É o que surgir.” Dizem-lhe que até numa maçaneta de uma porta encontra motivos para uma reportagem. Não é muito diferente com as matérias-primas que usa. O que poderia acabar no lixo vai para as orelhas. São brincos feitos com materiais recicláveis e sustentáveis. Nenhum é igual ao outro. “Não gosto de repetir. Encaro um ato de criação, uma reportagem ou um brinco, como uma coisa exclusiva.”

Criar e descomprimir. Rita não acumula lixo, é até bastante minimalista no dia a dia, no que usa, no que veste. As ideias são sempre bem-vindas, agrada-lhe reciclar materiais, gosta de ver peças a nascer. Como os brincos que lhe saem das mãos de forma delicada e cuidada. É slow craft, como diz, feito com amor e carinho. “E o cuidado leva tempo”, sublinha.

Imprime fotografias nos brincos, faz contas com papel de revista, recorta palavras que se tornam mensagens nas orelhas. Anda interessada em perceber melhor a arte e quer fazer um curso de joalharia ainda este ano. “Gostava de aprender técnicas para fazer as minhas próprias bases. As ideias que tenho na cabeça não encontro à venda”, adianta.

O batismo foi debatido com três amigas-consultoras. Ritices chegou a pairar no ar, acabou por ficar o trocadilho com todo o sentido: BrincOdeira. Os brincos e as brincadeiras de Rita. E o seu gato preto e branco, Trovão, que resgatou da rua há cerca dois anos, foi nomeado vice-CEO da BrincOdeira. Porque está sempre ao pé no momento da criação, porque há ali uma espécie de inspiração difícil de explicar. Os brincos estão no Facebook e no Instagram, à venda a partir dos 2,5 euros.