Pandemia cardiovascular e seus piores inimigos

Em caso de evento cardíaco agudo, ligar o 112

É um problema sério e os fatores de risco para a ocorrência de doenças cardiovasculares estão identificados. Há hábitos alimentares que fazem mal ao coração e estilos de vida que afetam seriamente a máquina que nos liga à vida.

Colesterol elevado, diabetes no sangue, hipertensão para o resto dos dias. Nada bom. Nada bom. Jorge Mimoso, médico cardiologista, do Centro Hospitalar e Universitário do Algarve, analisa os números e faz as contas. Será a covid-19 a maior causa de mortalidade em Portugal? Em 2019, segundo dados disponibilizados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), morreram 33 624 pessoas por doença do aparelho circulatório, como Acidente Vascular Cerebral (AVC), enfarte agudo do miocárdio e suas complicações. O que significa que, nesse ano, por dia, 92 pessoas perderam a vida devido a essas patologias. A covid-19, desde o seu início, provocou mais de 18 mil mortes no nosso país.

“Assim estamos perante uma pandemia cardiovascular que urge prevenir e tratar adequadamente”, avisa Jorge Mimoso. E como prevenir? Os fatores de risco estão identificados e o seu controlo permite reduzir a probabilidade de um evento cardiovascular. Nesta lista, estão o colesterol elevado, a diabetes, a hipertensão arterial e os hábitos tabágicos. “Estes fatores condicionam o aparecimento de placas de aterosclerose intravascular que, quer por progressão ou rutura, originam acidentes vasculares”, sublinha o médico.

Há cerca de dois milhões de hipertensos em Portugal. O tabagismo aumenta duas a quatro vezes o risco de doenças cardiovasculares e é responsável por 20% da mortalidade por doença coronária. E a obesidade também está na origem de muitas das doenças cardiovasculares, aumenta em 2,5 vezes o risco de hipertensão. O médico cardiologista refere que “o estilo de vida saudável com redução do sedentarismo e a mudança de hábitos alimentares para uma dieta mediterrânea são importantes para prevenir e controlar o excesso de peso, para além de ajudar no controlo dos fatores de risco.”

O tabaco aumenta cinco vezes o risco cardiovascular nos fumadores com menos de 50 anos de idade. É o principal responsável pelo enfarte do miocárdio nessa faixa etária

O colesterol elevado tem um papel fundamental na progressão das lesões ateroscleróticas. O colesterol circula no sangue ligado a proteínas, constituindo um complexo designado lipoproteínas. O colesterol mau é um dos principais alvos a controlar como fator de risco vascular. “O diabético tem um risco duas a quatro vezes maior de vir a desenvolver doença cardiovascular quando comparado com o não diabético. Os que desenvolvem doença vascular têm maior risco de futuros eventos e mortalidade cardiovascular a qual é responsável pela morte de 80% dos diabéticos”, adianta Jorge Mimoso. “Aqui também a sua prevenção passa por estilos de vida saudáveis, controlo da glicémia e dos restantes fatores de risco vascular”, acrescenta.

Como avaliar o risco cardiovascular? “Considerando que existem múltiplos fatores de risco, devemos avaliar o risco cardiovascular global. Existem scores de risco que permitem classificar o risco de eventos cardiovasculares a dez anos em baixo, intermédio, alto e muito alto. Os doentes que já tiveram eventos cardiovasculares são de muito alto risco cardiovascular.”

Adotar uma alimentação equilibrada é fundamental. Evitar o açúcar, os doces e as gorduras de origem animal e reduzir o consumo de hidratos de carbono (como arroz, batatas e massa)

E como diminuir o risco cardiovascular? “De acordo com o risco calculado, deverão ser definidas estratégias de controlo dos diversos fatores de risco e valores alvo a atingir em cada um desses fatores.” Vigiar o colesterol, adotar uma dieta adequada, consumo moderado de sal e álcool, deixar de fumar, praticar exercício físico. Se o risco é contínuo, é necessária medicação para prevenir a ocorrência de eventos cardiovasculares.

Em caso de evento cardíaco agudo, ligar o 112. O transporte rápido através do INEM, em caso de enfarte agudo do miocárdio ou de AVC, poderá tratar atempadamente a situação e salvar vidas. “Consulte o seu médico, avalie o seu risco cardiovascular, previna e trate adequadamente os seus fatores de risco, pois só assim conseguiremos, globalmente, conter a pandemia cardiovascular”, aconselha o médico.