Jorge Manuel Lopes

Os anos 60 de Alfonso Cuarón


Crítica de cinema, por Jorge Manuel Lopes.

O realizador mexicano Alfonso Cuarón, que hoje cumpre 60 anos, tem uma filmografia não muito abundante mas variada e ousada – e extremamente bem-sucedida em termos de público e crítica. É um autor que tende a exercer considerável controlo sobre os projetos em que se envolve: na maioria das oito longas-metragens que assinou, Cuáron tem também mão na escrita do argumento, na produção (nos anos 2000 criou inclusive a companhia Esperanto Filmoj, responsável por êxitos próprios e alheios) e na montagem, além de intervenções na direção de fotografia.

Alfonso Cuarón saltou do trabalho televisivo para o grande ecrã em 1991 através da comédia ácida “Sólo con tu pareja”. Foi obra com argumentos suficientes para lhe abrir as portas da indústria cinematográfica americana, na qual passou boa parte do resto daquela década, alinhando duas adaptações literárias sucessivas do cânone britânico: “A princesinha” (1995), a partir do romance homónimo de Frances Hodgson Burnett, e o mais auspicioso “Grande esperanças” (1998), puxando o clássico de Charles Dickens para o presente. O seu primeiro filme incontornável materializa-se num regresso ao México em 2001: em “E a tua mãe também” sufoca-se perante a tensão sexual entre Maribel Verdú, Gael García Bernal e Diego Luna. Para as obras seguintes, Cuarón mergulhou em diversos patamares de fantasia: a sua passagem pela saga Harry Potter, “O prisioneiro de Azkaban” (2004), costuma figurar no topo dos preferidos da série; e em “Os filhos do homem” (2006) e no oscarizado “Gravidade” (2013) entrega variantes bem distintas de ficção científica.

A última aventura de Alfonso Cuarón nos filmes é também a mais grata, porventura a mais inesperada: os dramas familiares de “Roma” (2018) vêm da década de 1970 e de uma Cidade do México monocromática. Acumulou galardões, do Festival de Veneza à Academia americana.

Desde então, este homem de múltiplos mesteres na arte da imagem em movimento prepara uma série televisiva, “Ascension”.