Miguel Stilwell de Andrade: o gestor que é engenheiro

Miguel Stilwell de Andrade é presidente da EDP

Foge dos holofotes e nem em ambiente familiar perde a reserva. Bom ouvinte, guarda o que pensa para o fim. Surfista, até nas manhãs gélidas se faz ao mar. Chega cedo ao escritório, sai tarde, nunca leva trabalho para casa.

Gosta do mar. No Estoril, onde vive, ou na costa alentejana, refúgio de férias e fins de semana, a prática do surf é um prazer, mesmo nas manhãs mais gélidas. A fotografia da praia de Guincho, capa da página pessoal do Facebook, ilustra a paixão de sempre. De acesso público apenas uma outra, de família, ele e os primos quando crianças e adolescentes, registados num momento feliz.

A família é grande. “A minha mãe tinha 21 netos”, começa por contar Isabel Stilwell, tia do presidente da EDP. “Os meus sobrinhos e os meus filhos têm essa coisa boa – cresceram entre muitos, de idades e feitios diferentes e isso foi um bem para a vida. Ainda hoje os primos mantêm contacto estreito e regular”, acrescenta a jornalista e escritora. Recorda uma criança “afetuosa, muito preocupada com os outros”. Tímida e sobredotada. “Não estamos a falar de um sabichão. Nada disso. Era, sim, um miúdo rápido a perceber e a analisar.”

Os colaboradores reconhecem a capacidade analítica e o interesse pelo detalhe. Características que a licenciatura “com distinção” em Engenharia Mecânica aprofundou. “A engenharia é sempre uma mais-valia, pois desenvolve o pensamento analítico, a capacidade de resolver problemas e uma sensibilidade para o negócio e para a indústria. Esta formação e posterior formação em gestão no MBA (…) têm sido extremamente úteis para a minha atividade como gestor”, disse, em entrevista à Associação Portuguesa de Investigação Operacional.

Entre os 18 e os 26 anos viveu na Escócia, em Itália (em Erasmus), em Inglaterra e nos Estados Unidos. O trabalho levou-o ao Brasil e ao Japão. “Ter de me desenvencilhar a partir dos 18 anos foi uma excelente forma de ganhar experiência”, revelou ainda na mesma entrevista.

O homem que ocupa desde janeiro de 2021 a cadeira que foi de António Mexia (afastado do cargo por decisão judicial), comandando a maior empresa da Bolsa portuguesa, chegou à EDP em 2000, depois de dois anos, em Londres, na banca de investimento. É um rosto da casa em que assumiu várias funções de relevo, desde logo a de administrador financeiro. Mas fora da bolha é um nome desconhecido. “Um quadro jovem, que vai ser, agora, posto à prova”, ouve-se a quem conhece bem o meio empresarial. Jovem, sim: 44 anos. “Parece muito mais maduro e talvez por isso a Bolsa reagiu muito bem à nomeação”, dizem os que trabalham com ele todos os dias. Conhecem-lhe a pontualidade – chega ao escritório às 7.30 horas – e a exigência. “É muito focado, gosta pouco de perder tempo, a ponto de muitas vezes almoçar na secretária. Mas também se abre à discussão”, adicionam.

Foge dos holofotes e nem em ambiente familiar perde a reserva. Bom ouvinte, guarda o que pensa para o fim. “Nunca tem pressa em acrescentar a palavra dele”, resume Isabel Stilwell.

Sabe delegar numa casa onde é patente o fosso salarial entre administradores e funcionários. Reduziu de nove para cinco os membros do conselho de administração, confiante na equipa que o secunda e à qual concede crescente autonomia.

Nunca fala de si. Mesmo sabendo que a grande maioria dos portugueses, seus clientes, lhe desconhece o nome.

Miguel Stilwell de Andrade
Cargo:
presidente da EDP
Nascimento: 06/08/1976 (44 anos)
Nacionalidade: Portuguesa (Lisboa)