A história do brinco envolve mau-olhado e piratas, marinheiros e estátuas egípcias, hippies e artistas. Um longo caminho até à afirmação.
Quem hoje os vê, reluzentes e estilosos, a adornar orelhas pelo Mundo fora, dificilmente lhes vislumbra o desígnio original. A primeira vocação deste objeto foi, imagine-se, espantar os espíritos malignos, num tempo em que se acreditava que estes entravam no corpo pelos orifícios do mesmo. A solução para o “problema” foi, pois, arranjar um acessório que cobrisse todo o ouvido. Claro que esta realidade remonta a um Mundo longínquo, qualquer coisa como 2500 anos a.C.. Curiosamente, nos primeiros séculos de vida, os brincos eram muito associados a figuras do mar: ora os piratas (neste caso, significava que tinham atravessado a linha do Equador), ora por marinheiros (aqui a ideia era que quando morressem se pudesse usar o brinco para pagar o funeral).
Com efeito, os brincos tardaram a generalizar-se. Na Ásia e no Médio Oriente, por exemplo, de onde são provenientes os primeiros registos deste adereço, eram utilizados exclusivamente pela nobreza, como símbolo de uma certa posição social. Já na civilização egípcia quem tinha “direito” a usá-los eram os gatos retratados nas estátuas – os brincos de argola serviam para lembrar a santidade daqueles animais.
Mesmo mais tarde, o caminho da popularização continuou a fazer-se aos solavancos. Depois de um período em que gozaram de maior adesão, algures no século XV, voltaram a ser proscritos com o fim da Idade Média, à custa dos penteados faustosos que os ofuscavam. Contudo, não seria o seu último ato. Já na década de 60 do século XX voltaram à ribalta, primeiro pela mão – ou pela orelha – de determinadas franjas da população (os hippies, os músicos, os artistas no geral…), depois de forma transversal. E, desta vez, para ficar.