O estômago a dar horas, os soluços que não se calam, os estalidos nos joelhos, os roncos na cama, os zumbidos nos ouvidos. Mas afinal o que acontece dentro do corpo que se ouve cá fora?
A lista de barulhos ou sons que se produzem no corpo humano é extensa. Na maior parte dos casos, são barulhos sem significado clínico. No entanto, há exceções que podem ser sinais de doenças. Jorge Santos, médico cirurgião do Centro Hospitalar do Porto e professor no Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS), explica tudo o que acontece. Percorra a fotogaleria e descubra os barulhos que saem de dentro de nós e que ouvimos cá fora.
Os mais frequentes são de origem gastrointestinal, mas há outros barulhos como a roncopatia que acontece durante o sono. Há sons inofensivos, que não precisam de atenção, e há outros que não são bem assim.
Aqueles barulhos que saem do abdómen, ou seja, do estômago, do intestino delgado e grosso, são comuns e normalmente não representam problemas médicos. “Os barulhos a nível do abdómen estão geralmente associados aos movimentos propulsores do tubo digestivo, a que chamamos periltaltismo”, adianta Jorge Santos.
O estômago faz barulhos quando está cheio e quando está vazio. São mais sonoros durante a digestão.
O estômago a dar horas não se cala? Os barulhos que saem desta parte do corpo tanto acontecem com a barriga cheia como com a barriga vazia. “Traduzem a movimentação do conteúdo gástrico que contém ar. Quando aparecem com o estômago cheio não nos apercebemos porque a comida amortece o som das bolhas de ar”, explica o especialista. Normalmente, são mais audíveis durante a fase de digestão, ou seja, aparecem algum tempo após a ingestão alimentar, cerca de duas horas depois.
Quando está vazio, o estômago começa a produzir suco gástrico que estimula os nervos que enviam uma mensagem ao cérebro – a tal mensagem “está na hora de comer de novo”. “E o cérebro responde a esse estímulo com uma ordem de movimentos nos músculos digestivos.”
A maioria dos sons intestinais é inofensiva e significa apenas que o trato gastrointestinal está a funcionar. Em todo o caso, é preciso atenção. “Se são muito frequentes, se o timbre é diferente do habitual ou se não existirem poderá ser um indicador de alguma doença no sistema digestivo”, avisa Jorge Santos. No caso de surgirem outros sintomas associados, como febre, dores, excesso de gases, sensação de barriga inchada, hemorragia intestinal, vómitos, então é mesmo necessário procurar ajuda médica para identificar a causa.
Os estalidos nos dedos, nos joelhos, são frequentes, mas há barulhos que são sinais de lesão.
E aqueles estalidos nos joelhos, nos dedos, em várias articulações? O que são? São bons ou maus? As causas são diversas e os estalidos, bem vistas as coisas, são extremamente comuns. “Ocorre, por exemplo, quando estalamos os dedos das mãos. Isto acontece pela presença de bolhas de gás nas articulações. Nestes casos, após uma ou duas vezes, os dedos param de estalar por algum tempo até que se formem mais bolhas de gás”.
Todavia nem todos os barulhos são bons. “O barulho pode ser um sinal de doenças nas articulações e até nos ossos. Quando ocorre, é importante procurar a ajuda de um ortopedista no sentido de avaliar a gravidade e as possíveis consequências”. Um estalido no joelho pode, por exemplo, acontecer devido a uma lesão de cartilagem na superfície articular da rótula – conhecida como condromalácia.
O cirurgião adianta ainda que “os estalidos nas articulações do joelho, acompanhado de dores, edema ou rigidez podem ser sinal de rotura de menisco, de inflamação articular ou de lesão tendinosa, pelo que se deve procurar auxílio médico”.
Soluços que persistam mais de dois dias, ou com outras queixas associadas, não são normais.
E temos ainda os soluços, essa manifestação sonora do que se passa dentro do corpo. É uma contração involuntária do diafragma e de outros músculos do tórax, seguida do encerramento da glote e da vibração das cordas vocais. “Este espasmo é desencadeado por uma irritação do nervo vago, do nervo frénico ou de parte do cérebro que controla os músculos respiratórios”, explica Jorge Santos.
“Na maioria das vezes, a causa do soluço não é grave, mas, se é persistente por mais de dois dias, ou se está acompanhado de outras queixas que indiquem doenças respiratórias como a pneumonia, doenças abdominais como infeções intra-abdominais ou doenças cerebrais, é necessário ser observado para identificar e tratar a causa desencadeadora”, refere o especialista.