Ukulele: a semelhança com o cavaquinho

Existem quatro modelos diferentes de ukuleles

O que têm em comum os tradicionais cavaquinhos portugueses com o ukulele, o mais popular instrumento do longínquo Havai? Quase tudo. De facto, um é a consequência do outro, apesar do mar imenso que os separa.

Iniciaram essa saga musical os emigrantes madeirenses que na viragem do século XIX para o século XX se aventuraram em busca de vida melhor e atravessaram o Atlântico rumo ao Pacífico até desembarcarem no arquipélago havaiano, depois de viagens de barco que chegavam a ultrapassar os três meses. Chegaram a ser dez mil, trabalhavam essencialmente na extração da cana-de-açúcar e muitos tinham como companhia as pequenas peças com quatro cordas de arame que trouxeram da terra mãe e que produziam um efeito sonoro nunca antes escutado naquelas bandas distantes.

Relatos da época contam que os locais ficaram surpreendidos com as capacidades do cavaquinho, fama que chegou também a outros estrangeiros estabelecidos no Havai. Como o oficial inglês Edward Purvis, que apresentou ao rei Kalakaua uma pequena demonstração das potencialidades do instrumento português. A atuação foi animada e frenética, ao ponto de o monarca ter comentado que Purvis parecia uma… ukulele, que na linguagem local significa pulga saltitante.

Apesar das conturbações da época – em 1893 os EUA invadiram o Havai e tomaram posse administrativa do arquipélago -, o ukulele foi traçando o próprio caminho e tornou-se cada vez mais popular. A essência não se alterou, o tamanho também não. O que mudou de forma praticamente natural, sem que isso tenha retirado originalidade ao som produzido, foi o composto das quatro cordas (ver caixa). Feitas de arame, a partir da segunda metade do século XX foram substituídas por nylon. E, mais recentemente, por fibra proveniente do intestino de animais como cabras, ovelhas ou bois. O corpo, esse, manteve-se sobretudo de madeira de mogno, abeto ou acácia, muito embora existam versões feitas em plástico.

Figura quase mítica no Havai, o cantor Israel Kamakawiwo’ole (1959-1997) lançou o ukelele para a ribalta mundial, em 1993, ao popularizar uma versão conjunta das canções “Somewhere Over the Rainbow” e “What a Wonderful World” apenas acompanhada do singular instrumento de cordas. O sucesso foi depois repetido, em 2010, quando uma compilação fez o tema regressar à ribalta e viralizou nas redes sociais.

Quatro cordas, quatro modelos

Existem quatro modelos diferentes de ukuleles. O mais tradicional é o soprano, considerado ideal para principiantes. Com apenas 58 centímetros, caracteriza-se pelo curto espaço deixado entre os trastes, os filetes de metal que atravessam os braços de cordas. O ukulele concert, esse, é ligeiramente inferior em tamanho, mas possui mais casas do que o soprano. Segue-se o tenor, com 66 centímetros e som mais encorpado. E, por fim, o barítono, o maior de todos os ukuleles, de tamanho semelhante a uma guitarra clássica. A coincidência entre todos é que possuem exatamente o mesmo número de cordas: quatro.