Há três meses, esgotou o Altice Arena, num regresso à stand-up comedy, o seu ponto de partida no humor. Perante milhares de pessoas, foi um risco e um rasgo, em textos crus e sem lições de moral. Um homem sozinho, de olhos vendados, perante o pelotão de fuzilamento, na descrição de Jerry Seinfeld, ou um exercício de equilibrismo entre as torres gémeas, na definição de Ricardo Araújo Pereira. O humorista português reconhece. “É preciso muita coragem. Um tipo sozinho contra 14 mil pessoas é uma grande empreitada.” A convite do amigo, participou. “Se não levei fralda, foi simplesmente para o fato assentar melhor.”
Coragem e maturidade. “Muito acima da expectável. O Bruno sabe lidar com a ansiedade de forma muito adulta. Mesmo no improviso ou perante muito stresse demonstra uma calma olímpica.” Fernando Alvim conheceu Bruno Nogueira no início do século. Partilharam a apresentação do Curto Circuito. Recorda “um ator em início de carreira – muito orgulhoso de ser ator e considerando-se sobretudo ator – sempre a fazer piadas, sempre a analisar os outros”. De forma “certeira, rápida, cómica, mas também muita sensata”. Humorista “fundamentado, dos que esgravata e esmiúça, obsessivo na construção das teses”. Acima de tudo, “uma torrente criativa”.
“Quem é este ovni?” – muito magro e reservado, observador compulsivo do alto dos seus 1,90 metros, o rapaz peculiar chamou a atenção de Markl durante uma reunião das Produções Fictícias, de Nuno Artur Silva. Corria o ano de 2004, “estava-se a preparar a peça ‘Manobras de Diversão’. Foi a primeira vez que o vi.” Pareceu-lhe “um extraterrestre”. “Muito tímido e calado, sobretudo muito alto. Senti-me um anão. Porém, conquistou-me rapidamente.”
A amizade entre Bruno Nogueira e Nuno Markl dura até hoje. Markl esteve ao lado do amigo no projeto “Como é que o Bicho Mexe?”, fenómeno de audiência no Instagram. O último episódio, uma arruada à procura de luzes de Natal nas janelas de Lisboa e do Porto teve a participação de Cristiano Ronaldo, Bruno Fernandes, Nélson Évora, Salvador Sobral e mereceu 175 mil visualizações em tempo real.
Markl concorda com Alvim: “O Bruno é essencialmente ator. O Ricardo [Araújo Pereira] considera-se sobretudo argumentista”. A comparação dos dois talentos, enormes, consensuais, é inevitável. “São os melhores da geração deles. Não consigo dizer de qual gosto mais”, diz Alvim. Markl também evita escolher. Porém, a cumplicidade com Nogueira é única. E baralha os que assistem. “O Bruno está em permanente bullying comigo. De tal forma que as pessoas por vezes reagem.” Ri e dá um exemplo: “Quando desenvolveu a teoria segundo a qual a minha cadela cegou porque lhe enfiei o meu pénis num olho houve quem me escrevesse a lamentar. Que era demais”. Amigos igualmente chegados, os encontros entre Bruno Nogueira e RAP são frequentes. E as conversas, “de velhos marretas a comentar o que se passa à volta”.
O prazer de estar com os amigos. De brincar com as filhas. E a nova paixão. “Se tivesse de lhe oferecer um presente, escolheria seguramente um ancinho”, ironiza Markl. Quem o quiser ver feliz é falar-lhe de jardinagem, de botânica, de enxertos e podas. “Ultimamente, falar com ele é como falar com o engenheiro Sousa Veloso”, resume RAP.
Bruno José Roseira Nogueira
Cargo: Ator e humorista
Nascimento: 31/01/1982 (38 anos)
Nacionalidade: Portuguesa (Lisboa)
