As voltas que o globo terrestre deu

Para alguns de nós, o globo terrestre foi um suporte importante na compreensão da Geografia

Faltava pouco mais de quatro meses para que Cristóvão Colombo “descobrisse” a América, quando o cartógrafo e navegador alemão Martin Behaim – apaixonado por Portugal, onde casou, viveu e morreu – concluiu a construção do seu globo terrestre. O dia 20 de junho de 1492 ficou marcado para sempre na história de Nuremberga, na Alemanha.

Em colaboração com o pintor Georg Glockenthon, Martin passou dois anos às voltas com a sua criação, a que deu o nome de “Erdapfel”, que significa “maçã do mundo”. Na verdade, essa famosa esfera seguiu a ideia de um globo construído por volta de 1475 para o papa Sisto IV, só que era melhorada, incluindo por exemplo os meridianos e a linha do Equador.

A peça, com cerca de 50 centímetros de diâmetro, está em exibição no Germanisches Nationalmuseum de Nuremberga e é uma das obras de arte mais interessantes da Europa. Mesmo que tenha inúmeros erros geográficos à luz dos conhecimentos da época. Em todo o caso, ficou famoso, tanto que lhe é atribuída a chancela de ser o primeiro globo terrestre que se conhece. Já que, desde a sua criação, tudo o que se fez foi acrescentar novos mundos ao Mundo e aprimorar medidas e dados.

Quando o Globo de Behaim, também conhecido como Globo de Nuremberga, viu a luz, a esfericidade da Terra, posta em evidência dois mil anos antes, não era dúvida para ninguém, graças aos importantes contributos de nomes como Pitágoras, Aristóteles e Erastótenes. Entretanto, foi preciso mais meio século para se compreender, a partir de Copérnico e Galileu, que a Terra girava em torno do Sol. E que éramos apenas um dos muitos planetas que habitam o Universo.

Para alguns de nós, o globo terrestre foi um suporte importante na compreensão da Geografia. Aprendizagens que começavam nas salas de aula e continuavam, por vezes, nos escritórios dos nossos pais, onde a existência de um globo parecia imprescindível. Atualmente, tem uma função mais decorativa, mas não perdeu o dom de nos fazer querer viajar, principalmente agora que não podemos sair de casa.

Um museu em exclusivo

Com uma surpreendente coleção, o Museu do Globo Terrestre da Biblioteca Nacional Austríaca (Globenmuseum), situado no Palácio Mollard, em Viena, é o único do Mundo que se dedica, sem surpresa, à exposição de globos terrestres. No total, podem ser vistos 250 objetos, dos mais de 600 que compõem a coleção, e que incluem esferas terrestres, celestiais, lunares, alguns planetários e instrumentos científicos.

O mais surpreendente é que alguns deles são verdadeiras obras de arte feitas à mão, há mais de cinco séculos. Além da história dos globos, aprende-se sobre a maneira como eram fabricados e a sua influência nas diferentes culturas.