Nasceu em Lisboa há 48 anos, filha de pai com origens em Torres Vedras e de mãe alentejana, que lhe deram um irmão mais novo dez anos. Católica e socialista, foi voluntária junto de crianças institucionalizadas até entrar pela primeira vez no Governo. Apesar de se assumir como “frenética”, Ana Mendes Godinho é discreta e gosta dos tempos passados em família. Mas uma simples frase arrasou-lhe o perfil low-profile que tanto preza. “Não o li pessoalmente, mas a Ordem [dos Médicos] fez-me chegar o relatório [sobre as mortes de idosos num lar de Reguengos de Monsaraz] e já pedi que o analisassem”, admitiu, em entrevista ao “Expresso”. Acabara a tranquilidade desta mãe de três filhos, a mais velha com 21 anos e dois rapazes, de 18 e 16. “Ficou arrasada, claro. Tem recebido inúmeras manifestações de apoio que a têm sensibilizado bastante”, confessa uma amiga próxima, que prefere não ser identificada porque “a Ana precisa de tudo menos de ruído à sua volta neste momento delicado”.
“Retirar uma parte essencial da frase, descontextualizando-a, e dando assim a entender que o Governo não considera graves os números de mortes em lares em Portugal, é um ato grave e que, como tal, deve ser desmentido”, tentou defender-se Ana Mendes Godinho, em comunicado. Mas já era tarde e a polémica tornara-se interminável. A primeira em que se viu envolvida. “Foi sempre uma pessoa muito ponderada”, afirma outra fonte próxima.
António Costa, que nela confiou para suceder a Vieira da Silva à frente do Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, regressou de férias e a primeira coisa que fez foi defendê-la publicamente: “Tenho toda a confiança na senhora ministra Ana Mendes Godinho e no trabalho excecional que tem vindo a fazer”, sublinhou o primeiro-ministro. Mal saiu a fatídica entrevista ao “Expresso” e se sucederam as ondas de choque, a ordem foi para erguer um muro em torno da ministra. “É quase como se fosse a lei da rolha. A intenção é protegê-la ao máximo e evitar expô-la publicamente”, revela fonte do PS.
Da adolescência ficou-lhe marcada na personalidade a experiência de ter estudado até ao sétimo ano no Colégio Mira Rio, em Lisboa, instituição privada ligada ao Opus Dei, onde foi das melhores alunas. Quando depois transitou para a escola pública, a diferença foi grande e suscitou episódios curiosos motivados pelos hábitos anteriores de estudante. “Levantava-me quando entrava alguém na sala. Toda a gente se ria”, contou, numa entrevista, em 2016. A mesma em que admitiu que “nunca poria uma filha no Opus Dei” e que sonhou “ter sido artista”. A veia é tanta que ainda canta em serões familiares. Veia que também se inclina para a costura, nomeadamente para as roupas que faz para os filhos e para o entusiasmo com que participa em grupos temáticos.
Estudou Direito na Universidade Clássica de Lisboa e fez uma pós-graduação em Direito do Trabalho e Legística e Ciência da Legislação. Entre os inúmeros cargos que desempenhou, foi vice-presidente do Turismo de Portugal. Bernardo Trindade, secretário de Estado de Turismo no primeiro Executivo de José Sócrates (2005-2009), convidou-a para chefe de gabinete. Seguiu-se, em 2015, pela mão de António Costa, exatamente a mesma secretaria de Estado, então para a liderar. E a promoção a ministra, em 2019.
Ana Manuel Jerónimo Lopes Correia Mendes Godinho
Cargo: Ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social
Nascimento: 29/06/1972 (48 anos)
Nacionalidade: Portuguesa (Lisboa)