Texto de Alexandra Tavares-Teles
Ecologista, europeísta, promete combater a corrupção e assume, num país de maioria católica, a defesa dos direitos dos homossexuais e das mulheres ao aborto. A eleição da liberal Zuzana Caputova, de 45 anos, para chefe de Estado da Eslováquia, tornando-se a primeira mulher na presidência, é uma rara vitória progressista na Europa central, onde a retórica nacionalista e xenófoba, com campanhas centradas nas questões migratórias e sociais, cresceu nos últimos anos.
O assassinato do jornalista de investigação Jan Kuciak e da sua namorada, Martina Kusnirova, em fevereiro de 2018, levou a corrupção política para o centro do debate público e milhares de eslovacos à rua, contra o Governo. A onda de protestos obrigaria o primeiro-ministro e líder do Smer, Robert Fico, à renúncia e impeliria Caputova a avançar com a candidatura à presidência. Enfrentando o medo, resumiria a campanha no slogan “vamos lutar contra o mal”.
Não foi a primeira vez que a dirigente do Partido Progressista e outsider (há quem a compare a Macron) invocou – e convocou – a luta contra o mal. Em 1999, como advogada, combateu judicialmente os responsáveis por um aterro tóxico ilegal em Pezinok, cidade próxima de Bratislava, onde nasceu, famosa até então pelo vinho, fama que a longa guerra contra o depósito de lixo, liderada pela filha da terra, exponenciou.
A batalha durou 14 anos. Zuzana venceu, ganhando direito ao título de Erin Brockovich da Eslováquia (referência ao filme de Steven Soderbergh interpretado por Julia Roberts) e ao Goldman Environmental Prize 2016, prémio atribuído anualmente pela Fundação Goldman pelo meio ambiente, também chamado de Nobel Verde.
“Este caso (Pezinok) foi uma lição de bravura, uma experiência com o mal”, referiu, durante a deslocação a São Francisco (Estados Unidos), cidade onde está sediada a Fundação. “Foi também”, acrescentou, “uma experiência intensa com a arrogância e a vulgaridade do poder político e económico”.
Agora, em 2019, Caputova, mãe divorciada de duas adolescentes, enfrentou e venceu, com o apoio da Oposição, Maros Sefcovic, 52 anos, comissário europeu da Energia, diplomata de carreira, apoiado pelo partido no poder. A primeira mulher na presidência é também o quinto presidente da Eslováquia, país com 5,4 milhões de habitantes, membro da zona euro e da NATO desde a independência, em 1993, em resultado da divisão da Checoslováquia.
É “possível ganhar a confiança das pessoas sem usar vocabulário agressivo e sem ceder a ataques pessoais”, disse, mal foram anunciados os resultados eleitorais. “É possível não ceder ao populismo”, declarou.
Cargo: Presidente eleita da Eslováquia
Nascimento: 21/06/1973 (45 anos)
Nacionalidade: Eslovaca