A hiperidrose traduz-se em suor excessivo nas mãos, nos pés, nas axilas - e não só. Nos casos mais graves, tem implicações sociais e laborais severas. Mas há solução.
Desde os seis anos que Luís Meneses, 30 anos, se habituou a andar com as mãos encharcadas. E se ficasse nervoso ou ansioso era o descalabro. De tal forma que situações do quotidiano depressa se tornaram um bicho-de-sete-cabeças. “Quando fazia os testes na escola, por exemplo, tinha que levar um lenço para não molhar a folha toda”, recorda o militar, natural de Braga.
Cumprimentar alguém também era o cabo dos trabalhos. “Passava sempre a mão nas calças. Tinha medo de encharcar a mão a alguém.” Ou dar a mão à namorada. Até jogar videojogos. O constrangimento social era evidente. “Se estivesse a jogar com amigos, quando lhes passava o comando estava todo molhado. Comecei a usar luvas.” Mais tarde, quase adulto, chegou a fazer apostas com os colegas em como conseguia encher chávenas de café só com as pingas que lhe caíam das mãos – e ganhava.
Luís, aprendê-lo-ia à medida que foi crescendo, sofria de hiperidrose, uma doença que afeta 1% da população e se caracteriza por uma sudorese, ou transpiração excessiva, que se pode manifestar nas mais variadas partes do corpo (mãos, pés, testa, axilas, por vezes até nas virilhas).
Manchar frequentemente a roupa, ter de passar o dia com as meias encharcadas ou evitar usar sandálias ou sapatos abertos para que não se percebam as manchas de suor são rotinas habituais em doentes que sofram desta patologia. Nos casos mais graves, os doentes sentem severas dificuldades nas relações sociais. Ou mesmo na adequação ao meio laboral – basta imaginar o que será manusear equipamento com as mãos permanentemente “alagadas”.
Causas? A resposta tem que se lhe diga. “A hiperidrose pode ser secundária a problemas de ansiedade ou a um hipertiroidismo, por exemplo. Mas também há muitos casos em que não encontramos nenhuma patologia orgânica que o justifique”, explica Evelina Ruas, dermatologista no Centro Cirúrgico de Coimbra. O que se sabe, com certeza, é que nos doentes que sofrem de hiperidrose existe uma disfunção nas glândulas do suor.
A propósito, uma ressalva. A transpiração não só é algo normal como desejável, na medida em que constitui um processo fisiológico e natural para controlar a temperatura corporal, permitindo que este arrefeça. Por isso não, não há nenhum problema consigo só porque transpira abundantemente nos dias tórridos de verão. Ou porque sai do ginásio ensopado. O problema começa quando as pingas de suor são estranhamente abundantes, sem causa aparente e se cingem a determinadas partes do corpo.
Seja como for, há solução. Evelina Ruas ajuda a perceber as várias opções. “Desde logo há produtos locais, em creme e em gel, que bloqueiam os canais e ajudam a reduzir a transpiração. No caso da hiperidrose axilar, também se pode recorrer à toxina botulínica [de botox]”, aponta a dermatologista. Trata-se de uma substância, também usada em tratamentos que visam diminuir o enrugamento da pele, que permite bloquear sinais nervosos e, neste caso, ajuda a resolver situações de transpiração excessiva. “Faz com que a pessoa resolva o problema mas de forma transitória. Normalmente é preciso fazer o tratamento duas vezes ao ano.”
Uma cirurgia para deixar de pingar
Noutros casos, a solução passa mesmo pela cirurgia. Luís, o militar de 30 anos que chegou a encher chávenas de café com as pingas que lhe caíam das mãos, já tinha ouvido falar dela faz tempo, mas admite que foi adiando por sentir “algum receio”. Até que em 2012 se decidiu. Quando acordou da cirurgia, o problema estava por fim resolvido. As pingas de suor abundantes nas mãos já eram, os constrangimentos sociais e o estigma também.
Francisco Félix, cirurgião torácico no Hospital CUF Descobertas, explica o processo da simpatectomia, o procedimento em causa. “Consiste na secção da cadeia simpática torácica a dois níveis. Com isso, consegue-se travar a estimulação simpática e diminui-se o suor” no território pretendido, mãos e axilas. Importa explicar que os nervos simpáticos são, entre outras coisas, responsáveis pela estimulação das glândulas do suor. De resto, garante o especialista, trata-se de uma cirurgia “rápida e simples” por técnica mini-invasiva. “Os resultados são imediatos e permanentes e os riscos muito baixos”, garante.
O suor, o odor e os antitranspirantes
Um aspeto frequentemente mal entendido em relação ao suor prende-se com o odor. Apesar de prevalecer a ideia de que é a própria transpiração que provoca o odor, o assunto é mais complexo. A dermatologista Evelina Ruas desconstrói: “O odor resulta da proliferação, em zonas de transpiração, de determinadas bactérias autóctones que vivem na nossa pele. Estas bactérias é que emanam substâncias químicas que provocam esse odor”, esclarece.
E por falar em transpiração, os desodorizantes antitranspirantes, que amiúde são apontados como possível causa para o cancro da mama, entre outros problemas, são ou não de evitar? “Essa é uma ideia sem qualquer evidência científica. Já foram feitos numerosos estudos comparativos e nunca se encontraram dados que permitissem estabelecer essa relação. O que pode é, nalguns casos, haver uma irritabilidade local. E no caso de uma criança, que ainda tenha a pele mais imatura, é preciso ter mais cuidado. Mas nós aconselhamos os desodorizantes antitranspirantes.”