Texto de Alexandra Tavares-Teles
O sorriso rasgado da carismática Ska Keller marcou a noite eleitoral de domingo. A cabeça de lista dos Verdes na corrida à presidência da Comissão Europeia não podia estar mais feliz com o resultado das urnas e segura do poder conquistado com votações impressionantes – Luxemburgo, Reino Unido, França, Bélgica, Holanda, Finlândia, Dinamarca e Irlanda.
“Uma onda verde estendeu-se realmente por esta Europa fora”, disse, sem esquecer a surpresa maior – na Alemanha, graças ao voto maioritariamente jovem, o Aliança ’90/Os Verdes tornou-se no segundo maior partido alemão (de 13 passou para 22 deputados), ultrapassando o histórico SPD. “É a loucura”, resumiu Ska, a candidata líder da lista.
De cabelo curto e ar afável, Keller é pela segunda vez Spitzenkandidat (candidata principal) à presidência da Comissão. Agora, porém, sabe que quem quiser governar a Europa vai ter de negociar com uma bancada verde bem reforçada – mais 17 deputados -, dona de uma palavra importante na formação de maiorias parlamentares. Como, de resto, a eurodeputada deixou claro desde a primeira hora pós-eleitoral, exigindo compromissos e propostas concretas.
Ska Keller entrou cedo na vida política e cívica. Em 1997, com 16 anos, fez parte do movimento antirracista em Guben, cidade com perto de 20 mil habitantes, colada à fronteira polaca, e de onde é natural. Em 2001, com 20, juntou-se aos jovens ambientalistas da Green Youth. De 2005 a 2007, foi porta-voz da Federação de Jovens Verdes Europeus e, de 2007 a 2009, liderou o Partido Verde em Brandemburgo, ganhando destaque na campanha para um referendo estadual contra novas minas de carvão.
Em 2009, com 28 anos e já conhecida por Ska – não gosta de Franziska -, deu o salto para Bruxelas. Poliglota – além da língua nativa é fluente em inglês, francês, espanhol e fala razoavelmente turco e árabe, terminaria no ano seguinte a graduação em Estudos Islâmicos e Judaicos nas universidades de Berlim e de Istambul.
Reeleita domingo para um terceiro mandato, é a mais jovem candidata à presidência da Comissão Europeia de entre os que se perfilam. Reconhecem-lhe, por isso, o “espírito da época”. O discurso voltado para mudanças climáticas, a posição marcadamente feminista, o combate ao populismo.
As mobilizações estudantis pelo clima fazem crer que o momento dos ecologistas chegou. Keller concorda. “Acho maravilhoso que o movimento tenha finalmente despertado”, comentou, citada pelo “El País”. Reivindica, no entanto, uma luta antiga, lembrando que as atuais bandeiras fazem parte, há muito, dos seus combates.
“O cuidado com o planeta” deixa-lhe pouco tempo livre. Nos raros momentos de inatividade, no comboio ou no avião, aproveita para ler. A Vida Secreta das Árvores, de Peter Wohlleben, e A Sexta Extinção, de Elizabeth Kolbert, best-seller sobre a responsabilidade humana na extinção das espécies, são companheiros de viagem.