Texto de Sara Dias Oliveira
Quando entrou no curso de Engenharia Civil da Universidade do Porto, Ricardo Sampaio percebeu que não queria passar a vida a projetar casas e procurou uma área que lhe desse prazer. Especializou-se em Planeamento Territorial e de Transportes, andou no terreno, centrou a sua tese no desenho de redes de transportes públicos e gestão operacional, articulando autocarros coletivos do Porto, comboios, metro. Passou dois anos na Trenmo Engenharia, do Porto, consultora de transportes, e confirmou o que queria fazer. “Entender a dinâmica de uma cidade, de um país, de uma economia.”
Queria uma experiência internacional. Passou um ano a enviar currículos para todo o lado. Surgiu a hipótese de ir para Barcelona, projeto que entretanto caiu, e a resposta da sua candidatura ao INOV Contacto chegou com o destino que lhe tinha calhado em sorte. Em janeiro de 2014, com 27 anos, aterrou na Colômbia para ajudar ao arranque da COBA – Consultores de Engenharia e Ambiente, de Lisboa, num dos países mais populosos da América Latina. Dois anos depois, liderava a área de trânsito de Bogotá. Criou projetos para melhorar as viagens diárias de 12 milhões de pessoas como responsável pela gestão de mobilidade de todos os modos e meios de transportes na Secretaria Distrital de Mobilidade. Chegou a chefe de logística da cidade. “Criei o meu cargo e criei o meu grupo.”
Liderou e desenvolveu programas ecológicos, criou a primeira rede de logística urbana em colaboração com as principais empresas e associações industriais. Tem uma visão global e defende que ninguém pode ficar de lado. “O setor privado tem de participar e ser integrado. A mobilidade de todos é de todos. O networking e a confiança são essenciais.” Executou 12 projetos de logística urbana para operacionalizar e otimizar a circulação de mais de cinco mil camiões de distribuição.
Ricardo Sampaio, 32 anos, nascido no Porto e criado em Santo Tirso, pensa numa outra escala, analisa modelos, olha em todas as direções, para a oferta e procura de transportes de passageiros, veículos de carga, zonas de distribuição de mercadorias e bens que fazem qualquer país funcionar. Gere interesses locais, regionais e nacionais, para uma abordagem de mobilidade integrada do território e da economia. E deu nas vistas.
Em outubro do ano passado, o Governo convidou-o para assessor da área de transportes. Trabalho não lhe falta. Já projetou programas de renovação da frota de mais de 55 mil camiões e de 300 mil veículos públicos de passageiros, para reduzir as emissões de carbono, e redesenhou o regulamento nacional de táxis para melhorar o serviço em termos de segurança rodoviária, tarifas e conforto. “Se queremos que a sociedade mude, devemos ser o exemplo para que a sociedade mude. Se queremos fazer política pública temos de viver a cidade, viver o país.”
Os seus dias começam cedo. Levanta-se por volta das 5.50 horas, faz ginásio das seis às sete e viaja de bicicleta para o trabalho – são dez quilómetros de ciclovia em 35 minutos. Gosta de viajar, aprendeu a dançar salsa, domina o espanhol, teve aulas de cozinha. E, por enquanto, não pensa voltar.