Psoríase: tudo sobre a doença de pele que arrasa a autoestima

É uma patologia crónica, que não tem cura, que pode atacar as articulações. Causa ansiedade e até depressão. As terapias evoluíram e é possível tratar as manchas que descamam por várias zonas do corpo.

A psoríase é uma doença de pele frequente, de evolução crónica errática, que resulta de uma combinação entre predisposição genética e fatores ambientais ou externos. O que é? Como se manifesta? Como tratar? Todas as questões têm resposta. A lesão cutânea elementar é uma mancha vermelha que descama, arredondada, e bem delimitada. A cor varia entre o rosa e o vermelho vivo, e as escamas são habitualmente esbranquiçadas, espessas, pouco aderentes, comparáveis a fragmentos de cera. E as lesões podem ser localizadas a áreas específicas (cotovelos, joelhos, couro cabeludo), ou disseminadas a todo o corpo, de forma mais ou menos simétrica. É uma patologia chata que revolta o sistema nervoso.

É preciso atenção. “Embora o prognóstico vital seja benigno, é uma doença estigmatizante, determinando por vezes consequências psíquicas como ansiedade e depressão, que interferem com a qualidade de vida individual”, adianta Joana Antunes, dermatologista. Na maior parte dos casos, há alternância entre períodos de exacerbação e épocas de remissão. O desencadeamento das crises pode relacionar-se com fatores inespecíficos, como infeções, fármacos, stresse psicológico, e a duração é imprevisível.

Não há só uma psoríase, há diferentes formas clínicas. Psoríase em placas ou psoríase vulgar, a mais comum, em que as lesões predominam nas superfícies de extensão dos membros, região lombo-sagrada, couro cabeludo e nádegas – inicia-se na maior parte dos casos no adulto jovem, embora possa surgir em qualquer fase da vida. Psoríase eritrodérmica é uma forma grave, corresponde à generalização de lesões, afetando uma área superior a 90% da superfície cutânea. Psoríase inversa, nas pregas cutâneas (axilas, virilhas, região inframamária, prega abdominal). Psoríase pustulosa, em que as pústulas, bolhas com pus, dominam nas lesões. E psoríase artropática que mexe com as articulações.

A psoríase é uma doença inflamatória crónica que afeta entre 250 mil a 300 mil portugueses

Além da pele, as unhas são frequentemente afetadas em todas as formas de psoríase e a alteração mais típica é a presença de múltiplas depressões minúsculas, semelhantes a picadas de alfinete. E como se faz o diagnóstico? Joana Antunes explica. “O diagnóstico de psoríase é essencialmente clínico: valorizam-se o aspeto típico e a localização característica das lesões, as alterações ungueais, o perfil evolutivo da doença, bem como a história familiar. Constitui dado importante para o diagnóstico o aparecimento de fino ponteado hemorrágico quando se remove a escama que cobre a lesão (sinal de Auspitz).” No entanto, em formas mais ligeiras ou atípicas de psoríase, o diagnóstico clínico pode levantar dúvidas. Nessas situações, recorre-se à biopsia cutânea, que fornece, na maioria dos casos, a chave do que se precisa saber.

A maioria dos casos ocorre entre os 20 e os 40 anos, sendo também comum entre os 50 e os 60 anos de idade. E o impacto desta doença de pele pode ser tremendo. “A psoríase pode afetar não só a autoimagem do indivíduo, mas também causar dor, desconforto, prurido, incapacidade física e psicológica. Reduz a autoestima, prejudica o bem-estar emocional dos doentes, e pode interferir negativamente nas atividades profissionais, sociais e relações íntimas”, refere a dermatologista.

Não existe, porém, relação direta entre a gravidade ou extensão da psoríase e o impacto que a doença pode ter na qualidade de vida de uma determinada pessoa. Ainda assim, Joana Antunes lembra que “vários estudos demonstraram que a psoríase tem o mesmo impacto na qualidade de vida que outras doenças crónicas graves, como doenças cardiovasculares, diabetes, doença renal crónica e cancro.”

A psoríase está também associada a outras patologias como a artrite psoriática, doenças cardiovasculares e depressão. A psoríase artropática/artrite psoriática afeta cerca de 30% dos doentes com psoríase, e observa-se predominantemente no adulto, entre os 35 e os 45 anos, sem predomínio entre os sexos. Surge independentemente da gravidade da psoríase cutânea, inicia-se, muitas vezes, de modo insidioso, com dor noturna e rigidez matinal, agravando-se depois de modo lento e progressivo. As articulações mais frequentemente afetadas são as pequenas articulações das mãos e pés, muitas vezes o dedo fica como uma salsicha.

Doentes com psoríase apresentam uma probabilidade superior a 50% de serem obesos

Joana Antunes sustenta que há cada vez uma maior evidência de que os doentes com psoríase têm maior propensão para desenvolver vários fatores de risco cardiovasculares, tais como hipertensão arterial, diabetes, obesidade e hipercolesterolemia. “Será, portanto, fundamental promover hábitos de vida saudável nestes doentes, vigilância e correção dos fatores de risco cardiovascular, bem como tratar a psoríase adequadamente.”

A psoríase é uma doença crónica e não tem cura. No entanto, as opções terapêuticas são variadas e a sua eficácia e perfil de segurança têm vindo a melhorar substancialmente nos últimos anos. “Hoje em dia, consegue-se tratar de forma muito satisfatória a grande maioria dos doentes, atingindo-se atividade mínima de doença ou mesmo redução total dos sintomas. O objetivo do tratamento da psoríase é induzir remissão ou obter controlo da doença”, explica. A terapêutica deve ser individualizada, após adequada avaliação clínica. “Importa acentuar que o aspeto clínico e cronicidade da psoríase interferem com a qualidade de vida do indivíduo, e que qualquer esquema de tratamento deve ter em conta este facto”, acrescenta.

Em Portugal, a psoríase é responsável por 35,4% do absentismo laboral e 75,6% da menor assiduidade ao trabalho

Tradicionalmente, as terapêuticas utilizadas para psoríase estão associadas a baixos níveis de adesão, devido à complexidade dos tratamentos ou aos fracos resultados obtidos, principalmente quando considerados os produtos de aplicação tópica. Os fracos resultados estão associados a altos níveis de frustração e ansiedade, que diminuem ainda mais a adesão à terapêutica e, consequentemente, agravam a doença. Mas com a introdução recente das terapêuticas biológicas altamente eficazes, os doentes conseguem atingir respostas excelentes e duradouras.

“Quer nas situações de psoríase ligeira, tratada principalmente com tratamentos tópicos, quer nas situações de psoríase moderada a grave, tratada com recurso a comprimidos ou injeções, a correta administração da terapêutica é fundamental para o seu sucesso, podendo inclusivamente comprometer uma eficácia sustentada a longo prazo.” “Apesar de ainda não ter sido descoberta uma cura para a psoríase, o armamentário terapêutico atual permite proporcionar à grande maioria dos doentes um excelente e duradouro controlo da doença, com consequente melhoria na qualidade de vida”, adianta a especialista. É sempre aconselhável e benéfico consultar um dermatologista para determinar a melhor estratégia para cada situação.