É um momento especial para estas entrevistas que nunca fiz, pois hoje tenho comigo o Menino Jesus…
Menino é força de expressão, eu já tenho 2019 anos, o que realmente, em termos de seres divinos, equivale a uma meninice.
Mas, neste caso, estou um bocado como muitos bispos do Vaticano, o que me interessa é o menino. Como foi nascer num estábulo?
Foi um bocado desconfortável, mas sempre é melhor do que num contentor.
Nessa altura devia ser mais complicado arranjar um local para um bebé ter as condições necessárias…
Sim, mas imagine se a minha mãe, Maria, e o meu pai adotivo, José, têm ido ao Garcia de Orta…
Eu tenho a teoria de que o Menino Jesus foi o primeiro nascimento via barriga de aluguer.
É verdade. No fundo eu nasci de uma gravidez de Deus por via do Espírito Santo.
Que era uma pomba.
Sim, mas não vamos confundir com bestialismo. Era uma pomba pura, mas imagino que tenha feito cocó em tudo o que era lado.
E o seu pai não reagiu mal por ver a mulher ficar grávida sem ter participado?
Um bocado. Por isso é que Deus enviou o Anjo Gabriel para lhe dar a notícia. Ninguém bate num anjo. Ou era um anjo ou um miúdo de óculos.
E deve ter sido estranho ter ao seu lado, após nascer, uma vaca e um burro.
Foi sim. A minha mãe disse-me que estávamos em Belém, mas eu pensei que estava na Ovibeja.
Dos dias após o seu nascimento o que é que recorda com menos prazer?
As prendas dos Reis Magos. Eu queria uma roca e trouxeram-me ouro, incenso e mirra. E a mirra, além do mais, nem sequer era da Chicco. Pior só se me oferecessem um par de meias.
Devem ter sido uns tempos complicados.
Foram, mas eu na altura já sabia fazer uns milagres e transformei o leite em vinho e deu para aguentar.
Não me imagino a ter de estar deitado numa manjedoura depois de nascer.
Era confortável, mas o meu pai tinha de estar sempre a dizer ao burro e à vaca que aquilo não era para comer. Bastava uma distração e lá se ia metade do meu colchão.
E devia ser chato ter a casa cheia de pastores e ovelhas.
Era, ainda por cima, como eles cheiravam muito mal, ninguém dava por eu já ter a fralda cheia.
Mas a verdade é que dois mil e dezanove anos depois em todo o Mundo se festeja o seu nascimento.
Pois, mas muitos fazem-no oferecendo Mon Chéri. Acho um bocado redutor.