Texto de Sara Dias Oliveira
E, de repente, aquelas dores nas costas atacam e as tarefas mais básicas, em casa e no trabalho, ficam por fazer. Não há propriamente uma causa definida para o aparecimento das lombalgias. No entanto, elas estão frequentemente associadas a vários fatores. Desde passar muito tempo a conduzir ou sentado em frente ao computador, até trabalhar com um martelo pneumático ou em câmaras frigoríficas.
Pedro Varanda, diretor do Serviço de Ortopedia e Traumatologia do Hospital de Braga e membro da Direção da Sociedade Portuguesa de Ortopedia e Traumatologia, explica quais são esses fatores. “Tarefas repetitivas como, por exemplo, um operário fabril numa linha de montagem. Força, trabalhos que exijam força manual ou cargas. Postura, posturas inadequadas como agachado, com torções do tronco, inclinações marcadas. Duração, permanência prolongada na mesma posição, como por exemplo trabalhar num computador ou conduzir longas distâncias. Vibração, por exemplo, o uso de ferramentas de trabalho como o martelo pneumático. Baixas temperaturas, trabalho exterior no inverno, trabalhos em câmaras frigoríficas.”
Profissões que exigem movimentos repetitivos, longos períodos de tempo sentado ou transporte de materiais pesados são fatores de risco para lesões na coluna vertebral
Geralmente, as dores de costas isoladas não são indicadoras de doença ou lesão grave. Normalmente, a dor melhora ao fim de alguns dias ou semanas. “Apenas algumas pessoas têm lombalgia relacionada com patologia mais séria como uma hérnia discal ou uma compresso nervosa e mesmo essas melhoram espontaneamente, na maior parte dos casos”, adianta o especialista, também coordenador de Ortopedia do Instituto CUF Porto, membro da Direção da Sociedade Portuguesa de Patologia da Coluna Vertebral e da campanha “Olhe Pelas Suas Costas” que tem alertado para a necessidade de adotar comportamentos preventivos que ajudem a proteger a coluna vertebral no trabalho.
Como controlar a dor? Pedro Varanda refere que, numa fase inicial, é necessário evitar o repouso total, ou seja, passar o tempo na cama – mas, se for mesmo preciso, o máximo aconselhável é de 48 horas. Manter a atividade, ir trabalhar inclusive, realizar as tarefas diárias que a dor permitir. Investir num programa de exercício adaptado, ou seja, a atividade aeróbica, o controlo postural, os alongamentos e reforço muscular podem ajudar no alívio da dor. “A utilização de analgésicos e anti-inflamatórios prescritos pelo médico assistente vão ajudar na fase aguda”, sustenta.
Numa fase posterior, evitar a mesma posição durante muito tempo, levantar e alongar com frequência, fazer um pouco mais a cada dia que passa, aumentar gradualmente o nível de atividade física. “Quando prescritos pelo médico assistente, os analgésicos e os anti-inflamatórios são uma boa ajuda na fase mais aguda da doença.”
O exercício físico pode ser um bom aliado para prevenir as dores nas costas. Manter-se sempre ativo e realizar as atividades diárias podem ajudar no alívio da dor
“O recurso aos meios de imagem como os raios X ou TAC, ou mesmo ressonância magnética, nas primeiras quatro a seis semanas após o início da dor, geralmente não são necessários, exceto se estiverem presentes sinais de alarme.” E os sinais são alterações urinárias, adormecimento na região genital, adormecimento ou formigueiro ou perda de força nos membros inferiores, desequilíbrio na marcha, dor grave que não alivia e agrava-se ao longo de várias semanas (especialmente na cama à noite), traumatismo recente, perda de peso inexplicável, antecedentes de cancro, perda generalizada de força ou apetite, febre.
As dores das costas, conhecidas geralmente por lombalgia, são o fator isolado mais frequente do absentismo laboral. “Em Portugal, as dores nas costas levam aproximadamente 400 mil portugueses a faltar ao trabalho, por ano, o que se traduz num problema grave, não só para empresas e empregadores, mas também para o sistema socioeconómico.” “A verdade é que as dores de costas já são responsáveis por 50% dos casos de incapacidade física na população adulta portuguesa”, adianta Pedro Varanda.