Há táticas para que os produtos alimentares pareçam mesmo naturais: aditivos camuflados, substâncias deturpadas. No mundo dos alimentos, nem tudo o que se diz e promete tem sustentação e rigor científico. Conheça alguns exemplos.
As pseudociências estão aí. E estão para ficar. Dietas milagrosas, produtos mágicos, dificuldade em perceber se as mensagens têm suporte científico ou se são apenas falácias.
Um dos maiores exemplos é a moda do sem: sem glúten, sem lactose. O «sem» é invariavelmente olhado como saudável. Como recomendável. O que é errado.
«Os produtos sem lactose ou sem glúten satisfaziam, inicialmente, as necessidades dietéticas dos intolerantes à lactose e dos celíacos, mas, magicamente, tornaram-se produtos de consumo geral», disse Deborah Bello, licenciada em Química e divulgadora científica, em declarações ao jornal espanhol El Mundo.
Sumos, sopas e bebidas que desintoxicam o corpo? Não há evidências científicas de que o nosso corpo tenha assim tanta vontade de desintoxicação
É isto para aquilo. É aquilo que faz bem a isto. É mais uma coisa que resolve outra coisa. Promessas, promessas. E onde entra a ciência? Há indicações que carecem de rigor científico mas que ganham estatuto de verdades absolutas. E, por vezes, é mais fácil engolir uma mentira do que aceitar uma verdade desconfortável.
Cada vez há mais alimentos rotulados como naturais. Só que as propriedades de uma substância não dependem da origem, mas da sua composição e estrutura químicas. E o natural, bem vistas as coisas, não é assim tão natural. Mas o rótulo cola e as pessoas aceitam que os ditos alimentos naturais são saudáveis e depois, quando se olha com mais atenção, têm aditivos que não são eliminados, mas sim camuflados. É uma questão de substituir os códigos que levam E na composição por nomes mais pomposos – E300 por ácido ascórbico, por exemplo.
Cacau e gengibre não removem tumores e a dieta vegetariana e vegan não elimina o cancro
Miguel Lurueña, especialista em Tecnologia de Alimentos, explica. «Outra tática é incluir essas substâncias de outra forma. Por exemplo, em vez de adicionar ácido propiónico para preservar o pão do mofo, são adicionados microrganismos que produzem esse composto, que é o que finalmente aparecerá no rótulo», diz ao jornal espanhol.
Sumos, sopas e bebidas que desintoxicam o corpo? Atenção, não há evidências científicas de que, na verdade, o nosso corpo tenha assim tanta vontade e necessidade dessa desintoxicação. «A menos que tenhamos consumido algum veneno ou algum medicamento, o nosso corpo não está intoxicado», diz Deborah Bello.
O leite materno e determinadas infusões podem curar o cancro? Isso não é verdade. Esqueça isso de uma vez por todas. Esqueça as promessas de que os vegetais alcalinos curam o cancro. Até porque há plantas, vendidas como milagrosas, que podem causar danos cardíacos e cerebrais. E o cacau, o gengibre, e os citrinos não têm o poder de remover tumores. Podem ter um efeito preventivo, mas a comunidade científica não os aconselha como tratamento. A dieta vegetariana e vegan também não vai eliminar o cancro.
Há produtos alimentares que exageram nas qualidades alegadamente saudáveis. José Nicolás, professor de Bioquímica e Biologia Molecular da Universidade de Múrcia, chama a atenção, em declarações ao El Mundo, para a «estratégia do asterisco» ou «marketing pseudocientífico». Exemplo? Produtos de leite fermentados com vitamina B6, com o argumento de favorecer o sistema imunológico, mas que quando vistos à lupa, têm apenas fósforo.