70% das mulheres com cancro da mama podem livrar-se da quimioterapia

Quando ainda se preparava para ser oncologista, Joan Albanell já tinha um objetivo: o de perceber se muitos dos pacientes com cancro da mama poderiam ser poupados à quimioterapia e aos efeitos secundários deste tratamento. Quase três décadas depois, conseguiu. O atual diretor do Serviço de Oncologia Médica do Hospital del Mar, em Barcelona, é um dos profissionais envolvidos num amplo estudo que traz boas notícias para muitos doentes.

Um novo teste molecular, chamado “Oncotype DX”, permite identificar quais são as mulheres diagnosticadas com cancro no estágio inicial (hormonodependente, sem extensão aos gânglios das axilas e negativo à proteína HER-2) que não precisam de fazer quimioterapia. De acordo com o especialista, são cerca de 70% das pacientes com esta patologia.

“Há alguns anos, sabíamos que, nas mulheres com esses tipos de tumores mais comuns, adicionar uma terapia hormonal depois da cirurgia reduzia o risco de recaída e metástase e também sabíamos que adicionar quimioterapia reduzia um pouco mais esse risco. Mas não sabíamos como selecionar as pacientes às quais prescreveríamos a quimioterapia”, explicou Albanell, em entrevista ao “El País”.

“Dependia de uma série de características clínicas e moleculares tradicionais, mas estávamos um pouco na escuridão. Em geral, a tendência era a de tratar em excesso as pacientes”, acrescentou. Com o “Oncotype DX” é possível analisar 21 genes e ter uma melhor visão do prognóstico das doentes, percebendo quais são as que precisam mesmo de quimioterapia.

Esta investigação começou a ser feita em 2003, contando com a participação de seis mil mulheres, divididas em dois grupos: um deles apenas com terapia hormonal e outro com o acréscimo de quimioterapia. “Os resultados demonstraram, de forma conclusiva, que omitir a quimioterapia não gerava resultados inferiores”, sublinhou o médico.

O teste, já usado em Espanha, tem, no entanto, uma limitação: custa 2.700 euros. Ainda assim, Albanell acredita que é possível “encontrar fórmulas” para torná-lo mais acessível.

“O facto de se evitar a quimioterapia em 70% das mulheres significa que esses custos são eliminados, mas também os dos profissionais, médicos, enfermeiros, do setor administrativo, que não têm que dedicar tempo a dar a quimioterapia ou a tratar os seus efeitos secundários e complicações”, defendeu.

Mais um pequeno passo na luta contra o cancro mais comum entre as mulheres. Em Portugal, são detetados, todos os anos, cerca de seis mil novos casos, sendo que 1500 pacientes acabam por não conseguir derrotar a doença.