Texto de Ana Patrícia Cardoso
Vinte e oito de novembro de 1944. Vivia-se, há cinco anos, uma guerra mundial que deixaria marcas profundas na Europa e no mundo. Portugal, graças à neutralidade que declarou perante o conflito e à posição geograficamente favorável para quem queria fugir para os Estados Unidos, tornou-se o país de eleição para muitas famílias abastadas e espiões.
Os eventos sociais continuavam a marcar a agenda da sociedade e a moda assumia também um papel importante. Os desfiles de roupa ou acessórios eram um acontecimento e chegavam inclusive às páginas dos jornais.
Neste dia, o Diário de Notícias dava conta de um desfile de chapéus que acontecia na Rua Alexandre Herculano. A proprietária do espaço e organizadora do evento, Maria Teresa, apresentava uma coleção de chapéus vinda de ateliês de Madrid e Barcelona. O Diário de Notícias anunciava que eram estas as casas que estavam «a ditar a moda em todo o mundo enquanto a França se recompõe do abalo sofrido».
A guerra tinha abalado Paris, tida como a capital da moda, muitos estilistas tiveram de fugir ou fechar portas e outros países começavam a emergir como referências de estilo.
Maria Teresa trazia do país vizinho novidades da última coleção que parecia agradar à plateia, que retribuiu com «os mais calorosos aplausos». As senhoras que assistiam ao desfile deslumbravam-se com o cuidado e modernidade dos novos modelos.
A guerra deixaria um rastro de destruição em todos os setores de trabalho e o mundo da moda levaria ainda algum tempo a recompor-se, mas momentos como este eram a prova de que a sociedade portuguesa continuava a prezar o bom gosto. Ficava assim registado um momento de «requinte e elegância no feminino», concluía o Diário de Notícias.
CHAPÉUS NA DÉCADA DE 1940
A restrição de tecidos na Segunda Guerra Mundial levou as mulheres a adotar um estilo de roupa mais contido. O interesse pelos chapéus aumentou, com modelos diferentes a ficarem na moda.