Roer as unhas é um tique difícil de dominar. Fazemo-lo para controlar a ansiedade, diminuir o stress, acalmar o nervosismo, fintar o tédio ou até mesmo para enganar a fome. Num jogo de futebol, num filme de suspense, numa sala de espera de um hospital, antes de uma entrevista importante, minutos antes de um teste decisivo, na viagem de comboio a caminho do trabalho. Roer as unhas não tem hora marcada. O nome de batismo é onicofagia, termo técnico para o roer das unhas dos dedos das mãos ou dos pés (sim, porque também há quem roa as unhas dos pés).
«É uma compulsão ditada pelo aumento da ansiedade», diz o médico Américo Figueiredo, especialista em dermatologia e venereologia. Um tique nervoso que se repete vezes sem conta. «Um automatismo do foro psíquico», esclarece. A maior parte dos roedores de unhas nem se apercebe que tem os dedos na boca e só pára quando há sangue na ponta das mãos. Uma necessidade, um hábito, uma compulsão «para esbater a ansiedade».
E se a necessidade não desaparece, transforma-se num vício difícil de controlar. Há especialistas que falam em distúrbios emocionais associados a problemas como a ansiedade, falta de segurança, agressividade, timidez. E, muitas vezes, é complicado resistir. As mãos não sossegam, os dentes funcionam como uma serrilha, e as unhas são mastigadas com insistência. Até à exaustão. Até sangrarem. E quando as unhas entram na boca, tudo pode acontecer.
Roer as unhas proporciona uma viagem gratuita para os germes, que vivem debaixo da superfície daquelas, até ao interior do organismo de quem tem este hábito. Como se sabe, as mãos carregam bactérias dos sítios por onde passam, dos transportes públicos às escadas rolantes dos centros comerciais, o que aumenta o risco de infeções e pode mesmo causar problemas respiratórios e gastrointestinais, gripe e diarreia.
As consequências não são bonitas de se ver e de sentir. Infeções da pele ao redor das unhas, feridas, deformações, desgaste do esmalte dos dentes incisivos, cáries. Unhas que nascem tortas e que nunca mais se endireitam.
Se o roedor for compulsivo, rói tudo o que põe na boca: não só a unha, como também a pele ao redor e a cutícula que protege as unhas e as mantém fortes. Sem essa proteção e pele rompida, mais oportunidades para as bactérias avançarem sem medo, maior o risco de infeções e inflamações. E os bichinhos passam da unha para a boca num abrir e fechar de olhos. O cenário pode ficar mesmo feio quando o roedor rói tanto que impossibilita o uso das mãos para algumas tarefas, como, por exemplo, tocar instrumentos de corda, conduzir, desenhar.
Para acabar com unhas roídas é preciso determinação. Muita força de vontade, acima de tudo. Há quem recomende mais vitamina B na alimentação porque aumenta a atividade da serotonina no cérebro e ajuda a reduzir a vontade de roer as unhas. Há também a terapia para tentar reverter o hábito, extingui-lo ou substituí-lo por outro menos prejudicial, o que implica identificar causas e eliminar estímulos que levem as mãos à boca. E há os conselhos mais óbvios: pintar as unhas com vernizes amargos, cobri-las com pensos adesivos, mastigar chicletes.